quarta-feira, 23 de abril de 2014

Meu Capitão - Presente

 Olhei um pouco mais de perto para saber mesmo se aquilo havia acontecido, se eu havia mesmo feito aquilo, eu queria mais do que tudo não ter feito, mas não poderia ter acontecido, nada naquele momento poderia ter acontecido não comigo e com Steve, não mesmo, eu me recusava, nós estávamos com duas garotas, como poderíamos estar nus um do lado do outro na mesma cama naquela manha sem nenhuma das meninas.
 Fiquei admirando o corpo magro de Steve por um momento, ele nunca fora um cara de chamar muita atenção, nos conhecíamos a muito tempo, muito tempo antes de eu me alistar para o exercito para servir o meu país, eu e Steve tínhamos esse sonho de servirmos juntos, porem ele não podia, pois era um garoto cheio de doenças, brincávamos antes que ele era mal formado.
Steve mexeu-se na cama por um momento revelando seu corpo nu, suspirei ainda mais de aflição, meu melhor amigo estava completamente nu,  comigo também nu e dormíamos um ao lado do outro em uma cama de solteiro, a sua cama de solteiro que tantas vezes eu já havia dormido, mas com Steve no colchão no chão, nunca assim juntos.
 Revistei o quarto atrás de uma calcinha ou alguma roupa feminina e nada, não havia nada ali. A não ser as nossas roupas, revistei o quarto apenas com o olhar para saber se tudo estava no lugar da ultima vez que eu o havia visto, tudo no mesmo local, tudo intacto.
 Levei a mão a cabeça por momento tentando lembrar o que havia acontecido naquele noite, as únicas coisas que eu lembrava era do bar junto com os amigos de Stark, daquela festa com as duas amigas, dos canecos de cerveja, de eu gabando-me de meu uniforme que Steve insistira para que eu usa-se naquele dia para poder passar algum poder, de nós dois saindo do bar um carregando o outro pela rua.
 Então respirei pesadamente, consegui me lembrar de Steve parando para urinar, sabia que eu havia desejado aquilo, sabia que eu estava gostando de ver o membro de Steve para fora, soltando aquele liquido amarelo, lembro que segurei Steve com força contra a parede quando ele terminou de urinar, segurei-o com as duas mãos, forçando-o para cima já que ele era mais baixo do que eu, o fazendo erguer no ar.
 Nos olhamos por alguns segundos. Ele provavelmente achava que eu iria bater nele de alguma força, porem ele não sabia porque eu estava fazendo aquilo com ele. Ele mal sabia o porque eu estava daquele jeito, a minha única explicação, desejo, juntei minha boca na de Steve com força, ele não resistiu, apenas ficou parado enquanto minha boca encostava-se na dele.
 O larguei e ele quase se desequilibra ao chão, porem não caiu, apenas ficou me olhando ainda sem acreditar que aquilo havia acontecido entre nós. Ficamos então parados, um encarando o outro por algum tempo, até que o desejo de ambos foi mais forte. Nos agarramos ali mesmo no meio da rua.
 Steve pulou encima de mim com força e nós dois caímos no chão molhado da chuva, mas não o tirei de cima de mim, ficamos roçando nossas línguas com força um com a outra e então minhas lembranças começaram a devagar, nós havíamos combinado, jurado, que aquilo não iria acontecer de novo. Não podíamos deixar que isso afetasse nossa amizade, não podia deixar de transparecer o que eu realmente sentia.
 Abri os olhos e percebi que Steve me encarava, também tão confuso quanto eu, suspirei e levantei da cama nu mesmo, juntando minha cueca do chão rapidamente e a vestindo – Steve, tenho de ir para casa, minha mãe provavelmente está furiosa.
- Obrigado Bucky, por tudo – Disse Steve sorrindo gentilmente para mim enquanto me olhava apenas nos olhos.
- Você sabe que pode contar comigo meu amigo, você é meu “chapa” – Falei abrindo o mesmo sorriso gentil para ele. Steve levantou da cama rapidamente e me abraçou. Talvez se ele ficasse em pé encima da cama com certeza iria ficar de minha altura.
 Sentir o cheiro de Steve estava me deixando inebriado, me fazendo ficar excitado, aquele cheiro de sono, misturado com o nosso sexo da noite passada, misturado com a cerveja que ainda emanava em nossos corpos, suspirei e então o soltei – Se precisar você sabe que pode ir para minha casa. Prefiro que não fique sozinho aqui.
- Tudo bem, eu sei me virar Bucky – Comentou ele ainda parecendo tristonho.
 Alisei o rosto de Steve por um momento, ele se confortou em minha mão, então fez algo que me arrepiou, beijou a costa de minha mão, e então me olhou com aquele jeito que só ele sabe fazer, e então eu fiz algo, o beijei de novo. Ficamos nos beijando durante algum tempo, com força e vontade, mesmo magrinho e pequeno daquele jeito Steve tinha força ainda para me puxar contra ele quando eu tentava me desvencilhar daquela situação.
 - Eu tenho de ir.
- Me avise quando for Bucky, preciso me despedir de você – Praticamente suplicou Steve a mim.
- Você sabe que será o primeiro a saber – Respondi enquanto vestia minha roupa.
 Talvez eu e Steve nunca comentaríamos sobre nossa noite de novo, nunca iríamos voltar a falar de nosso beijo, nunca seriamos um casal, talvez nós nunca nos entregaríamos um ao outro de novo como fazemos, pois aquilo fora só naquela noite, aonde ambos estávamos tristes e alcoolizados. E havíamos prometidos um ao outro.
 Acabou que eu tive de seguir viagem e a única pessoa que eu não consegui falar foi com Rogers, meu melhor amigo, e meu amor em segredo.

 Eu conseguia ouvir alguma coisa, porem eu estava realmente me sentindo desnorteado, eu queria levantar minha cabeça mas não conseguia, eu queria me mover, mas sentia os pulsos presos, eu queria me libertar de alguma forma, mas definitivamente não conseguia.
- Bucky? – Eu conhecia aquela voz.
 Então eu o vi, lá estava o meu Steve, meu melhor amigo Steve, meu amor Steve, ele estava ali para me salvar, com o uniforme azul que eu não reconhecia, ele parecia mais alto, mas largo ele não parecia aquele garotinho que eu havia conhecido.
- Você esta machucado meu amigo? – Perguntou ele quebrando minhas amarrar com um escudo de metal – Consegue se movimentar?
- Consigo – Comentei meio baixo me levantando – Steve? – O puxei para um abraço, mesmo que não tivesse tempo para isso, depois que nos afastamos apoiei minha mão em sue ombro ainda bestificado no que meu homem havia se tornado. – Você não era mais baixo?
 Ele abriu aquele sorriso que havia me conquistado e então me puxou para junto de seu corpo. Só naquele puxão eu pude sentir que tudo havia mudado, ele parecia com o meu Steve, porem não no corpo que um dia eu descobrira, que eu vasculhara, agora em outro corpo.

- Agente Carter – Ouvi Steve falando ao meu lado. Eu sabia que estava dormindo provavelmente por muitos dias, todos aqueles dias presos me deixaram sem saber o que fazer, se dormia ou se conseguia uma forma de fugir dali.
- Agente Rogers, eu sei que está preocupado com ele, porem precisamos de você.
- Não posso deixá-lo, ele foi tudo o que me restou, eu não posso simplesmente não está aqui quando ele acordar.
- Pode ir Steve – Falei um tanto baixo, abri os olhos e vi os dois me olhando com uma cara surpresa. – Definitivamente eu não irei a nenhum lugar.
- Bucky – Praticamente grunhiu ele me abraçando forte, senti meus ossos doerem e gemi alto – Me desculpa, ainda não consegui perceber que estas vivo meu amigo.
- Teremos muito tempo para conversar, fique tranqüilo, vá, estão precisando de você.
 Steve levantou, ele trajava apenas uma calça jeans um tanto apertado agora pra suas coxas grossas, e uma camiseta branca, seu corpo estava completamente escultural, eu podia ver cada veia dos eu corpo, nos braços fortes, ele pegou sua jaqueta de couro e então pude ver o quão alto ele estava, como eu estava com saudades de meu amigo. Ele saiu com a agente Carter e fiquei ali sozinho.
 Ao fechar os olhos lembrava de nossos corpos juntos, naquela noite de bebedeira, lembrava de seu sorri enquanto nos acariciávamos, eu definitivamente estava ficando louco.  Mas uma vez louco.
- Acho bom cobrir isso ai Bucky, as pessoas vão começar a notar seu dote – Comentou Steve de minha ereção, os dias naquele lugar asqueroso, sem nenhuma dama por perto, tudo ficava muito ruim até para mim, um cara centrado.
- Bela moça essa agente Carter – Comentei sentando-me na cama devagar.
- Muito bonita sim – Comentou ela – Ela estava no dia de minha transformação, pode-se assim dizer... – E então ele começou a me contar sobre tudo o que havia acontecido em sua vida, desde aquela noite que nos despedimos com um beijo em sua casa.
 Eu e Steve nos encontramos de novo pela manha, já havia recebido alta de pelos médicos e estava apito a voltar ao meu treinamento, eu queria muito estar na guerra de novo. Steve estava treinando com outros saldados, sem camisa apenas de bermuda, seu corpo estava maior do que o meu, a sua agilidade era inacreditável, ele estava mudado, agora sabia o que fazer e não só apanhar em becos, Steve havia se tornado um cara e tanto.
- Notei que não tirou os olhos de mim – Comentou ele enquanto andávamos até seu quarto.
- Impossível Rogers, você mudou completamente, porem ainda parece com o meu Steve.
- Eu sempre serei o seu Steve – Disse Rogers me empurrando contra o muro de onde passávamos.
 Agora eu não o olhava mais de cima, agora olhava cara a cara, eu rosto estava mais quadrado, agora tinha rosto de homem, ele abriu aquele sorriso que eu tanto gostava, e então levou seus lábios ao meu, nos beijamos devagar, matando a saudade que um estava do outro até aquele momento, talvez um ano separado, nosso maior tempo distante um do outro.
 As mãos de Rogers percorriam meu corpo chegando a minha bunda, apertando ela com um pouco de força demais, o seu desejo era tanto que eu não me importava com a dor, eu queria matar aquele desejo também, abracei seu corpo contra o meu o puxando para cima de mim, podia nossos membros duros um colado no outro enquanto nossos corpos roçavam com força um com o outro.
- Melhor pararmos antes que alguém nos veja – Comentei em meio a gemidos.
- Eu não me importaria com isso, eu sou seu e você sabe, sempre fui e agora sou mais ainda – Sussurrou ele em meu ouvido enquanto abria a braguilha de sua bermuda.
 Podia sentir o corpo de Rogers todo suado, aquilo não me dava nojo algum e sim uma excitação que eu não sabia explicar, os seus braços fortes me puxando para ele de uma forma selvagem me deixava cada vez mais excitado, desci minha mão por seu corpo escultural chegando a seu membro, ele estava pulsante, maior do que já era, não sabia quantos centímetros agora, senti aquele pedaço de músculo em minhas mãos de novo era fantástico, estava quase explodindo de excitação.
- Estava com saudades de você – Sussurrou ele de novo em meu ouvido, só que desta vez em vez de me beijar ele me virou de costas para ele, abraçou apertado minha cintura me puxando pra ele, roçando seu corpo ao meu com o gingado que eu já conhecia.
- Rogers, vamos parar por enquanto – Falei em meio a gemidos.
- Você tem certeza? – Perguntou ele mordendo meu ouvido enquanto roçava a língua por ele depois.
 Não consegui falar, me soltei dele repentinamente o assustando e o joguei contra o mesmo muro. Fui descendo minha boca desde sua boca roçando ela por seu pescoço, seu gogó, seus braços e axilas, mordendo seu mamilo com força o fazendo gemer, descendo com a língua por seu abdômen definido até sua cueca. Mordi a borda de sua cueca roçando a língua por ela devagar, senti o corpo de Rogers se arrepiar e senti ele apertando meu braço com força. Gemi de dor.
 Segurei na borda de sua cueca e comecei a puxá-la devagar, sentindo aquele cheiro viril de homem suado, sentindo o cheiro do meu homem, senti seu membro batendo em meu rosto, pesado. Senti a textura dele de novo era completamente diferente agora, parecia maior e mais grosso, e estava. Mordi a cabeça do membro dele de inicio, o fazendo estremecer completamente, então fui deixando entrar em minha boca devagar.
 Roçando a língua devagar pela, apenas, a cabeça do membro de Rogers o sentia vibrar em minha boca, pulsando, fui deixando com que adentrasse mais a minha boca, começando a sugá-lo devagar, apenas sentindo aquele gosto que a tempos eu não sentia, Rogers gemia um tanto alto, porem colocara a mão na boca para abafá-lo, sentia a sua pressão contra a minha boca, o meu vai e vem frenético, coloquei meu membro para fora também e comecei a me masturbar, então Rogers fudia minha boca com vontade, eu me masturbava com mais vontade ainda.
- Hoo, Bucky – Ele sibilou, ejaculando em minha boca.
 Quando Rogers falou meu nome foi como se eu tivesse chegado ao meu clímax, ouvir sua voz grave e ver a expressão de seu rosto fora o suficiente para me fazer gozar também, quase ao mesmo tempo.
- Estava com saudades de te ouvir chamando meu nome – Comentei enquanto levantava limpando minha boca tanto com a língua quanto com a mão, porem Rogers não me deixou limpar completamente com a mão, me puxou para si e me beijou de novo.
 Ficamos ali até que a sirene tocou, nós nos vestimos de rapidamente e saímos correndo para seu quarto, para não sermos pegos no toque de recolher. Entramos no quarto rindo um com o outro, ele estava com aquele sorriso feliz de quando nos conhecemos quando criança, eu também estava sorrindo, como era bom vê-lo de novo.
- Como é bom te ver – Disse abraçando o corpo de Rogers, grudando-o ao meu. – Como é bom te ter de novo.
- Também tenho o mesmo sentimento – Sussurrou ele no meu ouvido, beijando logo depois meu pescoço – Como é bom te ter de novo meu amor, meu homem.
 Sorrimos um para o outro de novo e nos beijamos, dessa vez com menos selvageria de uns minutos atrás, agora de uma forma mais romântica, Rogers me abraçava com carinho agora, me fazendo carinho. Se separou de mim alguns longos minutos depois e terminou de tirar a roupa, logo tirando a minha.
- Vamos tomar banho – Pediu ele abrindo aquele sorriso que eu tanto gostava. Como negar.
- Vai indo que eu vou tirar o coturno – Falei olhando para meus sapatos.
 Ele sorriu e saiu andando enquanto eu me abaixava, bati em sua bunda grande e ele olhou para trás fazendo algo que me deixou completamente excitado, rebolando ela para mim, mordi os lábios com força, tirando minha roupa o mais rápido possível.
 Steve Rogers estava comando banho alisando seu corpo de costa para mim, seu membro estava duro, ele então sorriu para mim quando virou-se para olhar quem o olhava, abriu o sorriso que eu mais gostava abrindo o banheiro para mim, me chamando para o melhor banho que eu poderia ter. Adentrei sem hesitar. Eu amava aquele homem, morreria por ele.


sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Inimigos da Virgindade - Cinco



Sara

Abri os olhos e fiquei olhando para o teto por um momento, fiquei avaliando as situações que eu teria de me meter hoje, e eu nem sabia por que eu estava tão frustrada assim, sentei na cama lentamente e olhei para os lados, eu nem sabia por que meu quarto estava tão desarrumando, na verdade o porquê da minha vida está tão desarrumada assim, teria de pegar o trem dali à uma hora e eu não estava com cabeça nem para levantar da cama.
 Eu estava fudida.
- Sara? – Gritou Carla lá de baixo, eu sabia que isso ia dar merda.
- Já to descendo – Falei assim que terminei de colocar minha roupa.
 Desci as escadas as pressas e quase cai do quinto degrau para o chão do hall, por pouco eu não quebro uma perna, foi tudo o que eu pensei atracada na escada olhando para o chão da onde eu estava na escada.
- Amor, você irá se atrasar, e sabe como o Colin fica quando isso acontece – Falou Carla da cozinha.
- Eu sei, eu sei – Disse suspirando enquanto terminava de descer a escada.
- Amor, você já pensou em crescer? – Perguntou Carla enquanto enchia a jarra com suco de laranja.
- Por quê? – Perguntei jogando o meu cereal matinal na tigela e enchendo com leite gelado.
- Você deveria comer melhor, não se lembra da dieta que iríamos fazer? Cereal pela manha não faz bem! – Comentou ela enquanto comia algumas torradas.
- Amor, você sabia que está sexy hoje? – Perguntei abrindo um sorriso safado.
- Você não irá fugir de nossa conversa querida – Disse Carla abrindo um sorriso maléfico, eu suspirei e fui até ela a abraçando.
 Depois baixei meu corpo e beijei a barriga dela, Carla estava gravida, no seu sétimo mês para falar a verdade.
 Aquele dia era memorável, pois fazia três anos que Beni havia morrido, eu e Colin ainda nos falávamos bastante, depois da morte o grupo se separou de uma forma rápida, as únicas pessoas que eu ainda falava de fato é Maria, Brian e Phil, o resto eu só vejo coisas na internet e ouço dos outros com quem eu ainda falo, porem todo aniversario da morte do Beni vamos ao cemitério juntos deixar flores azuis a ele. E hoje é o dia em que todos irão se encontrar.
Isso ainda me assusta um pouco.

 Sai de casa as pressas, como Carla havia falado eu iria me atrasar, e de fato isso iria acontecer, pois eu teria de correr para pegar o trem, depois que me casei com Carla nos mudamos para o subúrbio para ficarmos mais a vontade, em um bairro aonde quase só moram casais homossexuais, de vez em quando somos chamados para algumas festas sociais que ocorrem e nos damos muito bem com nossos vizinhos.
  Conheci Carla em um evento de computação há dois anos, ela estava em um dos estandes apresentando algumas novidades tecnológicas e ficamos conversando por horas sobre um determinado produto, então ela me chamou para tomar um café depois de expediente dela. E claro que eu aceitei.
 Começamos há namorar um mês depois, foi um dos melhores relacionamentos que eu já havia tido, quer dizer, ela me completava completamente, me ensinava coisas novas, talvez por ser mais velha do que eu, e cuidava de mim como nenhuma outra mulher havia feito, nós casamos seis meses depois, uma festa pequena, de meu grupo apenas Colin e Brian apareceram, mas eu fiquei feliz por ele terem aparecido.
 Já a gravides foi mais um ato de loucura minha do que dela estava assistindo a televisão um dia e em um dos canais o casal tinha um filho, eu me senti comovida naquele dia e decidi que Carla iria ter um filho meu, nós duas nos preparamos para isso e então aconteceu apenas um mês depois, mesmo com nós duas trabalhando achávamos que isso não iria dar certo, ele não nasceu ainda, porem eu acho que ele vai ser a criança mais linda do mundo e muito amada, e apenas de tudo o filho da mulher que eu amo.
- Sara, está indo para a estação? – Perguntou Dori, minha vizinha.
- Sim estou! – Concordei.
- Que bom, entra ai, te deu uma carona.
 Dori era minha vizinha de frente, nós duas nos conhecemos na faculdade e meio que não sabíamos uma da outra, ela mantinha isso em segredo e segundo ela nunca teve coragem de me contar enquanto estudávamos, depois de alguns meses que eu e Carla nos mudamos para a vizinhança, Dori se mudou com a sua esposa, Dori está no seu quinto mês de gestação e achamos isso muito engraçado.
- Como está a Carla? – Perguntou ela quando voltou a dirigir.
- Está ótima, acordou de mau humor comigo hoje, porque eu não estou seguindo a dieta que ela quer que eu siga.
- Estou com a saudade da Taylor, ela está na base sabe? – Falou Dori desanimada. Sua companheira era militar e meio que vivia viajando deixando Dori sozinha, por sorte ela e Carla eram amigas e enquanto eu estava no trabalho elas duas ficavam em casa conversando e cozinhando, já que ambas estão de licença a maternidade.
- Logo, logo ela volta – Comentei, Dori parecia realmente triste – Mas e então o que irá fazer na cidade?
- Vou comprar um berço para o bebe – Comentou ela – Eu estou namorando ele há tempos, e resolvi comprar hoje. E você?
- Hoje é aniversário de meu amigo.
- Serio? Cadê o presente?
- Vou comprar lá mesmo.
- Entendi. Quantos anos ele vai fazer?
- Três anos – Comentei olhando para fora do carro.
- Tão novinho, é filho de alguma amiga?
- Não, é aniversario de morte.
- Oh – Exclamou ela parecendo bem surpresa – Me desculpa, eu falando besteira.
- Tudo bem Dori, eu não ligo, para mim ele morreu, mas não morreu às vezes me pego conversando com ele como se ele não tivesse ido embora, sabe?
- Não – Respondeu ela, nós duas rimos – Mas mesmo assim meus pêsames.
- Obrigada, vou reencontrar a turma hoje, só nos vemos quase sempre nessa data.
- Isso é algo legal, não? – Perguntou ela.
- Na verdade, na nossa situação não, parece que não nos conhecemos mais, depois da morte de Beni nós nos afastamos muito um dos outros, parece que estou com estranhos conhecidos.
- Que situação chata, não é? – Perguntou ela tentando parecer confortável com aquela conversa.
 Porem segundo Carla, Dori era uma garota muito inocente e ingênua, como se tudo tivesse que ser como deveria ser, ela nunca entendia a situação do outro se não estivesse nos conformes, e aparentemente ela não estava se sentindo confortável com a minha situação.
 Eu também não estava Dori, eu também não estava. Era tudo o que eu queria falar para ela.

 Chegamos à cidade meia hora depois, nos despedimos na plataforma mesmo, iriamos para lugares diferentes, depois da situação tensa no carro eu tentei conversar com Dori sobre coisas normais, como bebes e coisas de bebes, eu estava realmente ficando experta nesse assunto.
 Assim que cheguei ao lugar marcado encontrei Colin sentado olhando para frente, ele estava de óculos escuros e provavelmente estava tentando se esconder dos fotógrafos, sempre isso acontecia quando íamos ao cemitério, ele não gostava quando íamos ao cemitério e os fotógrafos ficavam seguindo ele. Achei estranho ninguém o reconhecer, eu o reconheceria se ele estivesse com o cabelo black power e a pele toda negra.
- Desculpe o atraso, antes que acabe comigo – Falei parando em frente a Colin, não o deixando começar a falar quando abriu a boca.
- Sara, eu não sei o que eu faço contigo – Falou ele levantando e me abraçando.
 Depois que saiu da faculdade, Colin resolveu se inscrever em um programa de musica, acabou passando das fases e venceu o tal programa, então ele ficou conhecido na nossa cidade e no pais como o sensual Colin Reis, galanteador das menininhas, pena que ele não gostava delas, ele preferia os garotos, porem ele não podia falar isso.
- Vou usar meus fãs para ajudar esse cemitério, ele está ficando cada vez mais decadente – Comentou ele enquanto entravamos no cemitério.
- Isso não é contra tudo o que você estudou? – Perguntei olhando para ele.
- As pessoas gostam de ser usadas minha linda. – Comentou ele sorrindo. – Vai por mim, eu aprendi isso depois de uns anos.
- Acho que aprendemos isso depois que começamos a andar e nossas mães mandam a gente pegar coisas para elas.
- Meninos! – Gritou alguém atrás de nós.
 Nós dois viramos na mesma hora, e avistamos alguém que realmente eu não conseguia identificar, não sei se era porque eu estava ficando louca, ou se porque eu realmente era uma péssima fisionomista, mas eu podia jurar que aquela pessoa eu não conhecia mesmo.
- Phil? – Perguntou Colin ao meu lado.
- Sou eu, vocês não lembram mais de mim não? – Perguntou ele.
- Honestamente, se ti visse na rua eu não iria te reconhecer mesmo – Comentei olhando para Phil de cima a baixo.
 Phil tinha mudado em quase tudo, estava agora sem óculos e com olhos cor de mel, eu sentia falta daqueles olhos negros, o cabelo estava de um verde musgo e usava uma roupa preta, a calça apertada mostrando o quanto ele havia emagrecido e uma camisa surrada dos Ramones, ele não parecia mais aquele garoto intelectual que eu andava na faculdade.
- Como vai à fama? – Perguntou ele abraçando Colin.
- Ótima na verdade, farei meu dueto com a Christina Aguileira daqui a um mês, descobri que ela é uma vaca por trás das câmeras, mas ainda continuo fã. – Comentou Colin abrindo um sorriso.
- E você e o seu Studio? – Perguntei enquanto o abraçava.
- Acho que Beni tinha razão, eu levo jeito para a coisa – Comentou ele enquanto voltávamos a andar – Depois que tirei as fotos do CD do Colin as coisas melhoraram muito, muitos famosos me procuram, mas ainda uso meu pseudônimo, não quero minha vida pessoal exposta.
- Mais do que o seu cabelo? – Perguntei rindo.
- Para, eu gostei desse luck, e esta na moda em Paris.
- Soube que voltou de lá recentemente – Comentou Colin.
- Sim, estava fazendo as fotos do fashion week para a vogue, e conheci tanta gente, já estou com a agenda lotada – Comentou ele parecendo sonhador enquanto falava – Porem eu não esqueci do book do seu ou sua filhinha, ainda não sabem o sexo?
- Carla não deixou – Comentei – Mas eu quero que seja um garoto.
- Ela vai ensinar ele a agarrar uma mulher pelo cabelo, a ser um machão. – Comentou Colin maldosamente, seu sorriso era maldoso.
- Ou vai ensinar ele a jogar futebol – Comentou Brian ao nosso lado.
 Nós três gritamos quando ele falou, ninguém havia percebido ele chegando. Brian abriu um sorriso para nós e mostrou todos aqueles dentes brancos, como eu estava com saudades de Brian, agarrei ele assim que me recuperei do susto, meu amigo havia conseguido passar na marinha mercante e agora era Pratico da marinha quase não nos víamos porque ele morava em outra cidade e quase nunca conseguíamos nos falar, porque quase sempre ele estava fora de casa, porem nos mandávamos postais e e-mails, na verdade ele me mandava postais de todos os lugares que ia e eu respondia com e-mails.
- Tudo bem com vocês? – Perguntou ele em meio aos meus abraços.
 Acho que Brian estava mais alto do que antes, e muito mais musculoso. Seu corpo não era mais daquele adolescente de quatro anos antes, agora ele já estava um homenzarrão, com braços fortes e corpo grande, o que se adequava bem mais a sua pele negra. Depois que o soltei ele abraçou Colin e depois Phil. Nossa turma reunida, isso era estranho demais.
 Assim que chegamos a lapide de Beni percebi que ela já estava arrumada, isso queria dizer que alguém mais estava ali no cemitério, e por não estar nos esperando eu já tinha uma noção de quem seria. Falei para os meninos que eu iria ao banheiro, eles provavelmente não tinham se tocado que o tumulo de Beni estava limpo.
 Sai andando pelo corredor de lapides e avistei aquele cabelo amarelo claro de longe, ela estava com um vestido rodado preto e parecia bem mais gostosa do que era anos antes, Maria estava parada em frente ao tumulo de sua família, ali jazia seus pais, sua avó materna e sua irmã que morrera recentemente em um assalto, eu não tinha palavras para conforta-la depois daquilo, convidei Maria para morar comigo mas ela resolveu seguir sozinha o seu caminho. Parei ao seu lado e segurei sua mão, Maria sorriu pra mim e encostou sua cabeça em meu ombro, ela estava lagrimando.
- Engraçado como Deus tira as coisas que mais amamos primeiro – Comentou ela baixinho.
- Maria, você sabe que não estamos aqui para sermos felizes e sim para sermos testados – Comentei baixinho também.
- Você é feliz com a Carla.
- E você está sendo feliz com o John.
- É, pode-se dizer que sim.
 Eu e Maria nos afastamos por causa de seu novo namorado, John, ele é um cara legal, tem uma empresa de transporte e faz Maria feliz, digamos que agora Maria não precisa mais trabalhar, só se ela quiser, ela tem tudo do bom e do melhor, porem ele é um cara muito ciumento e afastou todos os amigos de Maria, o único que ela mais tem contato é Tito, pois o marido de Maria é um grande amigo da irmã de Tito. Porem ninguém sabia o paradeiro de Tito fazia um ano, desde nosso ultimo encontro.
- Vamos para a lapide de Beni – Falou Maria secando as lagrimas.
- Você está realmente bonita Maria – Comentei sorrindo.
- Você sempre sendo um amor comigo Sara – Comentou ela olhando para suas roupas – Na verdade eu nem sei porque escolhi esse vestido, eu nem se quer gosto dele.
- Ele ficou muito bonito em você – Comentei dando mais uma olhada para Maria, ela riu e então me deu um tapa fraco no ombro.
- Você tem mulher, olha o respeito eu também tenho um homem – Comentou ela, nós duas rimos.
- Estou admirando sua beleza, não posso? – Perguntei parecendo chocada, gargalhamos de novo, como eu sentia falta de Maria.
- Já ia esquecendo – Comentou ela soltando minha mão e abrindo a bolsa, tirando dela um pano surrado, a blusa que Beni havia deixado no testamento de folha de caderno para ela.
- Você sempre vem com ela, o John ainda não tirou isso de você?
- Não, isso é tudo o que ele não pode mudar em mim – Disse ela vestindo por cima do vestido a blusa, abraçando seu corpo.
 Chegamos junto dos meninos e Edmund, TK e Simon haviam se juntado ao grupo e eles pareciam empolgados em nos revermos de novo.
 Eu sabia que Edmund havia se casado com Tony e eles haviam se mudado para outro estado dois anos depois da morte de Beni, fizemos até uma festa de despedida, essa foi à única exceção de nosso encontro, o único que não compareceu foi Simon, desde então eu não falava com Edmund, apenas Colin mantinha contato com ele.
 Já Tk havia começado um namoro com Matheus depois que ele voltou para a cidade após se formar, eles mantinham um relacionamento ainda em apartamento diferentes, Tk havia voltado para a faculdade depois de um tempo afastado e estava quase se formando, era tudo o que eu sabia de Tk.
 Já Simon havia virado juiz de algum lugar, eu não conversava mais com Simon desde nosso ultimo encontro, ele e Brian chegaram a namorar e romperam quando Brian se mudou e isso deixou o grupo mais estranho ainda, eu nem sabia o porquê do termino deles, nunca perguntei ao Brian.
- Onde estão Tito e Emma? – Perguntou Tk parecendo nervoso.
- Está tudo bem? – Perguntou Edmund ao perceber.
- Sim, só não gosto de cemitérios, você sabe disso – Comentou Tk suspirando olhando para a lapide de Beni.
 A foto de Beni ainda estava ali, ele estava com um cigarro na boca, e não era igual aquelas fotos estranhas que vemos em todas as lapides, alguém havia trocado, provavelmente Tito.
 Emma e Tito apareceram alguns minutos depois. Ambos muito diferentes da ultima vez que nos vimos. Emma agora estava com o cabelo curto e preto, parecia um menino vista de longe, ela estava bem mais magra, sua clavícula estava muito mais exposta do que o normal.
 Tito agora estava mais encorpado, ele não parecia mais frágil e inocente, seu rosto estava com outra expressão, ele estava com uma mala de viajem, porem ele estava me lembrando muito uma pessoa, olhei para o retrato de Beni na lapide e me assustei, ele estava lembrando muito o Beni quando estava vivo.
- Chegamos, tive de esperar esse ser humano no aeroporto – Justificou Emma abrindo um sorriso ao nos ver, abraçando um a um.
- Onde você estava? – Perguntou Tk, mesmo morando juntos ainda, ele não saber era novidade para mim.
- Tokyo – Comentou Tito, ele agora parecia mais arrogante.
- A cidade preferida de Beni – Comentou Maria baixinho.
- Sim, queria fazer uma homenagem – Comentou Tito olhando estranhamente para Maria – Que fofo você ainda está com a camisa dele. Já a lavou alguma vez.
- Nunca lavarei, quero permanecer com o cheiro dele nela.
- Sabia que você tem glândulas sudoríparas no seu corpo e que você soa, e acho que também a camisa já deve estar com o cheiro do seu Chanel n°4, eu sinto daqui – Comentou Tito abrindo um sorriso torto.
- Alguém voltou de Tokyo com a macaca, mas os menores pênis do mundo estão lá, deve ter sido isso – Comentou Simon rindo, nós todos rimos da observação, menos Tito.
- Se eu fosse ignorante o suficiente para transar com todos os presos julgados gostosos pelo juiz, eu ligaria para isso – Comentou Tito revirando os olhos – Mas vamos aplaudir o tumulo de Beni ou o que dessa vez? Ouvir uma das musicas bregas sobre amor do Colin?
- O que aconteceu com você Tito? – Perguntou Edmund na defensiva – Se não queria nos encontrar não precisava vir para falar mal dos outros. Se você não cresceu na vida e continua sendo sustentado pela sua mãe por ser tão ignorante para conseguir algo melhor a culpa não é nossa.
- Falou o namoradinho que mudou a vida toda por causa do maridinho que te trai com todos os caras do escritório dele.
- Calma – Comentou Brian quando Edmund avançou para cima de Tito, Brian era o único que conseguia segurar Edmund.
- Tito o que você quer aqui? – Perguntei olhando para ele – Você não é mais o mesmo há muito tempo, e se não nos julga mais como seus amigos porque ainda insiste?
- Amigos? – Perguntou Tito olhando para cada um de nós – Você perdeu a cabeça Sara? Vamos ver, Simon é uma putinha do tribunal, Edmund o corno do Arizona, Brian o traído no exercito, Maria a influenciada do Uper West Side, Tk o mentiroso da ralé do gueto, Emma a machinho e metida a pegadora que não consegue esquecer a mesma mulher tem cinco anos, Phil o palhaço ridículo que foi fazer vergonha em Paris, Colin o cantor de quinta categoria que ganhou um reality show de merda e você a traidora do subúrbio, alguém quer mais que eu revele alguma coisa? - Perguntou Tito olhando para todos nós, sua expressão era fria. – Nós nos somos amigos e nunca fomos essa família aqui morreu junto com esse garoto ai, ou você esqueceu quem nos juntou afinal de contas.
- Eu não sei por que você está sendo um retardado – Comentou Emma suspirando – Mas eu acho que está na hora de você calar a boca, não viemos aqui por você, viemos aqui pelo único cara que te deu as mãos e te fez amigo dele e uma pessoa melhor, mas pelo jeito você só piorou depois que ele morreu, continua o mesmo mimado e egoísta de sempre – Emma então aproximou mais de Tito, ficando cara a cara com ele – Você precisou dessa família quando saiu de casa, lembra? Você precisou de nós quando ele morreu, lembra? Você precisou de nós quando ficou desempregado, lembra?
- E daí? – Perguntou Tito tentando não perder a pose de garoto sem coração. – Eu falei alguma mentira sobre todo mundo?
- Não, assim como ela não está falando nenhuma mentira sua. – Comentou Tk suspirando. – Pouco me importa o que você pensa sobre mim, não estou aqui por você, e sim por ele.
 Tk apontou o dedo para lapide de Beni e então nós todos olhamos para ela, o tempo estava fechando, como da primeira vez que estivemos ali, porem nenhum de nós arredou o pé, ficamos ali relembrando coisas de Beni, alguns choraram, outros não, Tk nos entregou as rosas azuis que sempre jogávamos na lapide dele todo aniversario, depois decidimos beber a ele. Ninguém sabe muito bem o por que.

 Estava voltando para a estação quando meu celular tocou. Eu não estava mais aguentando aquele reencontro, Simon e Brian nem trocavam uma palavra, Tito estava irritando a todo mundo e quase Edmund bateu nele pela terceira vez em duas horas, tudo o que Maria falava era de John e o quanto ele era bom para ela, e os fãs de Colin não paravam de nos perturbar. Precisava relaxar.
- Oi, pensei que não iria me ligar. – Comentei.
- Claro que eu iria te ligar, eu não esqueci que você esta na cidade, e advinha, estou sozinha em casa, meu marido está no trabalho quer vir aqui?
- Com certeza – Concordei dobrando na rua antes da estação – Chego ai em dez minutos.
 Desliguei o celular sorrindo, depois liguei para Carla e quando caiu na caixa postal eu comecei a falar – Querida, vou ficar um pouco mais com o pessoal, sabe como são os reencontros, volto um pouco mais tarde para casa, te amo.
 Desliguei o celular na hora que parei em frente ao apartamento dela, apertei a campainha e o portão abriu, olhei para trás antes de entrar no prédio, tirei minha aliança e coloquei na carteira. Sai andando, deixando a porta se fechar as minhas costas.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Inimigos da Virgindade - Quatro

Tito



  Mordi os lábios com força, estava sentindo o gosto de sangue na minha boca, mas não me importava com aquilo, meu coração estava apertado e era inevitável as lagrimas não escorrerem pelo meu rosto, tentava puxar o ar, mas não conseguia, tentava fazer alguma coisa que não fosse chorar, mas tudo naquele momento em frente ao corpo dele era complicado.
 Beni estava ali sem vida na minha frente, seu rosto estava intacto, alguns arranhões no corpo e um corte muito profundo em sua perna direita, ele estava pálido, exangue, seus olhos estavam fechados como se estivesse dormindo e de onde eu observava ele parecia estar sorrindo, parecia estar sabendo que nunca mais teria de acordar para essa vida de merda.
 Fechei os punhos com força, dava para sentir minhas unhas, quase todas já ruídas, entrando em minha pele, eu não estava nem ligando para dor alguma, eu só queria abraça-lo de novo, e queria lhe dar uma bofetada na cara, por ter morrido por causa de um idiota.
- Senhor? – O assistente do legista me chamou – A quem temos de informar? Algum numero a ligar? O senhor precisa de ajuda?
- Não, só preciso de um minuto – Falei ainda encostado no vidro olhando o corpo de Beni ali na minha frente.
 O saco com os pertences de Beni estava em minhas mãos, o celular estava todo quebrado, a carteira estava intacta, e provavelmente fora assim que conseguiram me achar, pois havia feito Beni me prometer que levaria sempre meu numero caso alguma coisa acontecesse, mas eu não sabia que seria naquela situação, seu zipo também estava intacto, como eu queria que ele estivesse intacto.
- Senhor? – Perguntou de novo a moça.
- Sim?
- O senhor deseja um café, ou um lugar para sentar? – Perguntou ela gentilmente – Ele era seu namorado?
- Meu irmão – Falei sem muitos rodeios, e depois completei – Mas não quero nada não, na verdade eu queria sair daqui.
- Tudo bem – Ela disse abrindo um sorriso solidário para mim, me guiando para fora do necrotério.
 Olhei para o celular de Beni em minhas mãos e sentei na calçada, começando a chorar como se não soubesse fazer outra coisa, como ele poderia ter feito isso comigo? Como ele tinha morrido daquela forma, como eu iria contar isso tudo para o pessoal, como eu iria falar com a mãe de Beni, como eu ia ter toda essa força.
- Tito? – Perguntou Emma ajoelhando-se a minha frente.
- Ele... Ele se foi mesmo amiga – Nós dois nos abraçamos e choramos juntos.
  Emma estava tremendo enquanto chorava, era doloroso ouvir ela chorando, o jeito como ele estava, Emma nunca se comportou daquele jeito em situação nenhuma, ela nunca foi uma garota de perder o controle, mas naquele momento era perceptível que ela não tinha controle nenhum, tudo o que fiz foi conforta-la.
 Tk chegou alguns minutos depois, ele estava fumando um cigarro atrás do outro e ele não conseguia aceitar aquela situação, mas nem ele e nem Emma quiseram ver o corpo de Beni, ambos estavam chorando bastante.  Ficamos ali por mais ou menos uma hora tentando decidir o que iriamos fazer daquele ponto com tudo relacionado a Beni.
- Vai parecer ridículo o que eu vou falar, mas Beni tem escrito como ele queria que fosse o enterro dele – Falou Tk limpando o rosto com a costa da mão. – Podemos reunir todos em casa e discutirmos isso.
- Eu não sei se eu quero discutir como enterrar o meu amigo Tk – Falou Emma suspirando – Precisamos ligar para a mãe dele.
- Emma eles não se falam a mais de dez anos, tudo o que ele tem dela é seu endereço e seu telefone em um cartão postal e está com o Edmund, como você acha que vamos ligar e falar isso pra ela? Achas mesmo que ele iria querer sua mãe que o rejeitou por causa do padrasto aqui?
- Tito, ela é mãe dele – Rebateu Emma – Precisamos falar com todo mundo.
- Emma e Colin estão saindo da delegacia e estão indo para casa, vamos para lá. – Falou Tk levantando.
 Nós andamos em silencio até o apartamento, agora só de Tk, ninguém queria falar nada, Emma e Tk foram fumando do necrotério até o apartamento, aparentemente as carteiras de cigarros terminaram quando viramos a esquina da prédio de Tk. Maria, Colin e Phil estavam parados ali na frente, ambos com as roupas da festa, eles aparentavam derrotados, quando nos encontramos de fato todos voltamos a chorar.
- Falei com o Simon e com o Edmund – Falou Colin – Eles vão chegar daqui a pouco.
- A Sara e o Brian também já foram avisados – Falou Phil fungando.
 Nós seis ficamos paramos em frente à porta do apartamento, olhando para ela como se esperássemos Beni abrir a porta a qualquer momento, como sempre acontecia. Mas foi Tk que há abriu, entramos silenciosos.
 Maria correu para o quarto de Beni, ninguém teve coragem de segui-la, fomos todos para a cozinha, Tk sumiu da cozinha por um instante e então voltou quando Phil estava nos fazendo um café e Emma, Colin e eu estávamos sentados na mesa, os dois estavam fumando.
- Aqui está – Falou Tk jogando uma folha de caderno amassada e um pouco queimada de cinza de cigarros em cima da mesa – Esta o jeito que ele quer o seu velório e o seu enterro, e o testamento dele.
- Isso é algum tipo de brincadeira Tk? – Perguntou Phil do fogão.
- Gente, eu vivia com o Beni, parecíamos marido e marido, eu irei fazer o ultimo desejo dele como ele pediu, se vocês não me ajudarem não tem problema, mas também eu irei ficar muito magoado assim como ele ficaria.
 Nós todos nos entre olhamos, mordi os lábios de novo, agora eles estavam doloridos, por causa da mordida que eu havia dado no necrotério. Puxei a folha para mim e olhei rapidamente – Acho melhor esperarmos os outros chegarem, eles estão no testamento.
- Desde quando nós tomamos café? – Perguntou Tk olhando para Phil que terminava de encher a garrafa.
- Não sei, me deu vontade de fazer o café, algum problema?
- Nenhum, só achei estranho.
- Onde está o Matheus? – Perguntou Colin.
- Não sei, ele não esta aqui, acho que foi embora.
- Você conseguiu transar com ele? – Perguntei, Emma se levantou da mesa com cara de poucos amigos, acho que ela não queria participar daquela conversa.
- Consegui, mas me arrependo, pois Beni me ligou quando nós estávamos transando, e se eu não estivesse transando provavelmente ele estaria aqui conosco.
- Não se culpe, ninguém sabia que isso iria acontecer – Falou Phil suspirando – ninguém esperava que nada daquilo fosse acontecer.
 Ficamos em silencio por algum tempo até que a campainha tocou. Os outros quatros chegaram a intervalos de dez minutos cada um, tiramos Maria do quarto de Beni, ela estava agarrada com a camisa que Beni mais gostava chorando em sua cama, mas nenhum de nós queria ficar no quarto de Beni. Reunimo-nos na sala.
- Quem quer ler? – Perguntou Tk com o papel na mão. Emma segurou o papel e começou a lê-lo.
- “Tudo bem, eu estou fazendo isso porque o Tk, o Patrick e o Brian me obrigaram, perdi no jogo de verdade ou desafio.” – Começou a ler Emma, nós sorrimos, mesmo não tendo graça alguma naquele momento – “Então vamos lá, no meu velório eu quero o meu caixão fechado, não quero que ninguém me veja pálido, quero que se lembrei de mim como da ultima vez que nós bebemos. Quero meus meninos com as roupas de um arco íris, Tito de vermelho, Brian de verde” entre parênteses ele colocou que essa cor fica melhor no seu tom de pele Brian.
 Olhei para Brian e ele estava lagrimando, talvez de todos nós ele fosse o mais sentimental, e Beni tinha razão aquela cor combinava muito com ele.
 Emma voltou a ler – “Colin de Azul, Phil de amarelo, Tk de laranja, Simon de Anil e Edmund de Violeta. Maria de branco,Sara de cinza e Emma de marrom, nada de preto só eu usarei preto e os desavisados. Quero ser enterrado com a minha calça skinny que rasgou e esta escondida no armário que estou escondendo de Maria a dois meses, uma camisa de gola v preta, e o meu tênis surrado, uma caixa de fosforo e uma carteira de Marlboro vermelho. Vou precisar fumar um pouco lá embaixo.”
- Como sempre ele fazendo piada de que vai para o inferno – Comentou Sara limpando os olhos.
- Ele vai para o inferno – Afirmou Simon sorrindo.
- Porque você é tão maldoso Simon? Ele está morto sabia? – Rebateu Edmund um tanto irritado.
- Eu não sou maldoso, só estou tentando alegrar um pouco as coisas aqui. – Respondeu Simon, mas acho que teria sido melhor se ele tivesse ficado calado.
- Alegrar as coisas aqui? – Perguntou Edmund agora começando a ficar alterado – Você é retardado ou algo do tipo? Seu amigo acabou de morrer e você quer animar um pouco as coisas? Você tinha uma amizade por Beni, ou só se aproximou dele para transar com todos os amigos dele? Seu viadinho de merda.
- Até parece que você não é um! – Rebateu Simon agora perdendo a calma.
- Calem a merda da boca de vocês – Gritou Emma olhando para o papel, ela estava lagrimando – Calem a boca seus idiotas, o que adianta brigarmos agora? Se o Simon é frio e egocêntrico deixa ele, se você é briguento e rabugento ninguém te julga, o meu melhor amigo está frio encima de uma mesa de metal agora e ele não irá mais acordar, será que podem pensar nisso pelo menos um pouco? Eu quero terminar a porra que eu estou lendo para poder fazer o ultimo desejo dele, posso?
- Desculpa – Falou Edmund se segurando para não rebater o que Emma havia dito. Simon assentiu com a cabeça.
-Quero que não sirvam café, o Tk sabe o numero da minha conta, quero que deem tequila a todos os que forem no meu velório, se alguém for né. Se ninguém quiser tequila ai sim sirvam café batizado, quero álcool no meu velório. E quero que toque Nirvana e Amy Winehouse enquanto aguardam para me enterrar. – Emma suspirou e limpou um pouco as lagrimas, depois passou o papel para outra pessoa.
- No meu enterro eu quero que vocês façam aquela caminhada debaixo do sol, quero que vocês sofram, como eu não sei se ainda estarei com o Patrick ou não, do jeito que ele está saindo demais com os seus novos amiguinhos, quero que ele seja o único que jogue uma flor vermelha pra mim, o resto vai ter de jogar flores azuis, sabem que é minha cor favorita, não quero alguém falando de Deus é bla bla bla, eu quero só que me enterrem e toque no fundo Back to Black. – Colin terminou de ler e suspirou olhando para nós – Eu juro que vou quebrar a cara do Patrick se ele aparecer na minha frente.
- Acho que isso não tem mais necessidade – Falou Brian parecendo irritado – Além de Beni estar morto, o Patrick já sofreu tudo o que tinha de sofrer.
- Ele quer saber aonde o Beni será enterrado e como o Beni morreu. – Comentou Sara.
- Você está falando com ele? – Perguntou Edmund.
- Achei que ele deveria saber – Respondeu Sara – Eles ficaram juntos por muito tempo.
- Eu vou terminar de ler – Comentou Colin parecendo querer fugir de uma briga – Agora vamos ao meu testamento. Deixo a minha cama para o Simon, eu sei que ele vai fazer bom uso dela na sua casa, ela é um ótimo ninho de amor e bem espaçosa. Para o Edmund eu deixo o meu computador, eu sei que até lá ele vai ter o seu próprio sem ter de dividir com o irmão, mas pelo menos ele vende. Para o Brian eu deixo a minha adaga, eu sei que vai ser útil para ele. Para a Maria eu deixo minha camisa favorita. Para Sara eu deixo a minha coleção de garrafas cheias e vazias que estão no meu bar. Para o Colin eu deixo o meu ipod e minha coleção de cds antigos. Para o Tito eu vou deixar o meu carro, se um dia eu tiver mesmo um, e o meu quarto, já está na hora de ele sair da asa da mãe, para o Tk eu deixo a minha conta bancaria, ele é o único que sabe a minha senha, e eu deixo um grande desafio, morar com o Tito, para o Phil eu deixo o meu destrinchador e a minha câmera, eu sei que se ele aprimorar fica bem melhor na sua fotografia, para a Emma eu deixo minhas lembranças no diário e meus boxes de series e meus livros. Para o Patrick eu deixo o meu morcego de pelúcia. Peço de doem todas as minhas roupas, só com exceção da doada para a Maria, não quero ninguém com as minhas roupas a não ser os necessitados. Acho que é isso.
- Edmund, eu queria que você falasse com a mãe do Beni – Falei alisando meu rosto.
- Claro que eu falo, acho que sou o único que tenho o numero dela.
- Tirando que você é o único que vai saber dar essa noticia com educação e preparo – Comentou Phil tentando abrir um sorriso.
- Irei cuidar o funeral dele – Falou Tk limpando o rosto e levantando.
- Posso te ajudar? – Perguntou Brian também levantando.
- Eu também ajudarei – Falou Sara também levantando.
- Eu irei arrumar as roupas dele – Comentou Simon levantando do sofá, ele e Phil foram para o quarto de Beni.
Ficamos apenas eu, Emma, Colin e Maria no sofá, mas ninguém se encarava, Maria estava enroscada na camisa de Beni e toda afundada no sofá choramingando baixinho, Colin estava fumando mais uns cigarros com Emma, ele estava encostado com a cabeça na perna de Emma, já ela estava olhando para cima com a cabeça encostada no apoio do sofá. Edmund estava na cozinha tentando entrar em contato com a mãe de Beni.

 Tudo parecia tão morto para nós naquele momento, Sara apareceu no apartamento de Tk quase três da manha, ela estava com as camisas coloridas, entregou a nossa, Emma pegou um marca texto e escreveu na sua “para sempre Beni”, e todos gostamos da ideia, cada um escreveu uma frase bonita para Beni. Tk apareceu um pouco mais tarde, ele estava acabado era de se notar, mas aparentemente ele já havia feito tudo com Brian, dali a algumas horas iriamos velar o corpo de Beni.
 Brian apareceu alguns minutos depois com as garrafas de tequila, ninguém se animou com a situação, mas também como ninguém queria mais problemas, todos começaram a beber os shotes. Simon voltou do quarto de Beni com a calça que ele queria ser enterrado e com a camisa, Maria fez um desenho na caixa de fosforo que ele havia pedido, era Beni fumando sentado em um balanço, havia esquecido como Maria desenhava bem.
- Estão todos prontos? – Perguntou um embriagado Colin vestindo sua camisa.
- Vamos logo para lá – Disse Edmund, ele fora o único que só dera um shote de tequila, ele achava tudo aquilo ridículo, e meus pensamentos já estavam se concretizando que sem Beni entre nós ele não iria mais fazer parte de nosso grupo.
 Chegamos ao necrotério alguns cigarros depois, ninguém falava nada, apenas andavam e fumavam como se estivéssemos em um filme mudo, era possível ouvir Maria e Brian fungando e o irritamento de Emma crescendo, mas ninguém queria falar ou fazer nada.
 Nos direcionamos para a capelinha que ficava dentro do necrotério mesmo, Tk foi o único que entrou no necrotério de novo para poder vestir Beni. Era um funeral simples, apenas conosco ali, talvez a mãe de Beni não quisesse vir, não havia nenhum padre ou um pastor, eu nem entendia porque estávamos ali de fato, porem depois que trouxeram o caixão de Beni, meia hora depois, nós ficamos ali olhando para ele, e para a foto de Beni que provavelmente Tk ou Brian havia imprimido para colocar no tripé ao lado do caixão.
 Porem eu me enganei, mais pessoas chegaram à capelinha, a mãe de Edmund e seu irmão, alguns conhecidos do trabalho de Beni, Matheus que se sentou ao lado de Tk confortando-o com o famoso ombro amigo, e o menos esperado por todos nós, talvez não por Sara, Patrick e alguns amigos que Beni não falava a muito tempo depois da separação deles dois. Por fim chegou uma senhora de cabelos castanhos como os de Beni e os olhos tão perdidos quanto os dele, os mesmo traços de Beni, talvez o Beni mulher, a mãe de Beni sentou-se no final do salão, apenas observando a nós e ao caixão do filho.
- Eu sei que não estamos aqui para comemorar nada – Começou Tk levantando depois de um tempo – Porem Beni escreveu como queria seu funeral e seu enterro uns anos atrás, e eu achei que deveria fazer o que ele havia colocado no seu papel. Vamos tocar a banda favorita dele, tem um bloco de papel que cada um pode escrever o momento que mais gostou em ter com ele, e shotes de Tequila, a bebida favorita dele.
 - Antes de começar a musica, eu queria fazer minha ultima homenagem ao Beni, eu posso? – Perguntou Colin levantando, todos confirmaram com a cabeça. – Obrigado – Falou ele levantando.
 Colin se arrastou até atrás do caixão de Beni e então olhou para todos ali dentro – Beni e eu nos conhecemos há muito tempo atrás, nós chegamos a quase namorar, e ele era um excelente amigo e companheiro, entre nossas conversas ele me ensinou a gostar de musicas boas e cinema, e eu nunca irei esquecer isso, eu o julgava minha paixão, e nunca tive a chance de falar isso para ele. – Colin estava soltando algumas lagrimas enquanto falava – Então eu queria dedicar isso a ele.
 Ninguém entendeu muito bem o que Colin queria fazer, pois ele fechou os olhos e baixou a cabeça por alguns momentos, Emma me olhou um tanto confusa e eu apenas dei de ombros para ela, não sabia também o que Colin iria fazer, acho que ninguém sabia.
- Se o azul do céu escurecer e a alegria na terra fenecer não importa, querido viverei do nosso amor se tu és o sonho dos dias meus se os meus beijos sempre foram teus não importa, querido, O amargor das dores desta vida um punhado de estrelas no infinito irei buscar e a teus pés esparramar, não importa os amigos, risos, crenças de castigos quero apenas te adorar se o destino então nos separar se distante a morte te encontrar não importa, querido. Porque morrerei também! – Colin estava chorando quando terminou de cantar, assim como todos nós, aquela era a musica favorita de Beni, ele a cantarolava quase sempre. – Um punhado de estrelas no infinito irei buscar e a teus pés esparramar Não importa os amigos, risos, crenças de castigos quero apenas te adorar. Quando enfim a vida terminar e dos sonhos nada mais restar num milagre supremo Deus fará no céu te encontrar.
 Olhei para trás e vi que tanto Patrick quanto a mãe de Beni estavam chorando, ele porque Beni havia dedicado muito aquela musica para o relacionamento deles se um dia Patrick morresse. E a mãe de Beni porque ela que havia o feito gostar de Maysa, ele dizia que era a cantora favorita dela.
- Obrigado – Falou Colin ainda chorando e sentando ao nosso meio.
 Ficamos ouvindo Amy Winehouse por algum tempo enquanto algumas pessoas escreviam bilhetinhos para serem enterrados com Beni, Patrick foi o ultimo a levantar e eu podia sentir a tensão de todo mundo para o que ele iria escrever, ele ficou um tempo escrevendo, mas quando voltou eu me surpreendi com o que aconteceu depois.
 Emma levantou do meu lado e partiu pra cima dele, primeiro ela lhe bateu na cara, um tabefe muito bem dado, ela estava chorando e eu sabia que era de raiva, Patrick cobriu o rosto aonde ela havia batido, ele não fez nada a não ser olhar para baixo, então Emma começou a surtar – Me olha seu escroto, me encara seu ridículo, filho de uma puta, ele está morto por causa do seu egoísmo, o que você está fazendo aqui? Em?! – Emma berrava e então Brian e Edmund levantaram para segura-la, depois que ela começou a socar Patrick em todos os lugares que ela conseguia até o menino cair no chão, sangrando e gemendo de dor, porem ele sabia que merecia tudo aquilo e não revidou em nada. – Ele te amava mais do que tudo e você trocou ele por um idiota que te trai com outro cara, ele te idolatrava e vivia pra te fazer feliz, essa musica era o resumo da vida dele contigo e você simplesmente o descartou por um ridículo, todos aqui sabiam que você traia ele, ele morreu achando que você não o amava que você o odiava e tudo o que você queria era fuder e fuder e fuder com qualquer coisa que se mexia. Sai daqui seu ridículo, saia, SAI!
 Todos estavam chocados com o que Emma estava fazendo, com o jeito que ela estava, ela estava completamente vermelha, as lagrimas ainda no seu rosto, assim como o ódio também, Sara foi à única que se levantou para ajudar Patrick a levantar, todos estavam olhando para ele com desprezo, até os amigos dele. Brian levou Emma para fora dali, e Sara levou Patrick embora, todos ainda estavam atônitos com o que havia acontecido, ninguém falou nada e nem comentou nada, até que Tk levantou e falou que já estava na hora de terminarmos com aquilo.
  O dia estava cinza lá fora, parecia que iria chover, o cemitério ficava ao lado do necrotério então nós mesmo que iriamos levar o caixão e ele só estava sendo levado por nosso grupo, todos concordaram que seria a melhor maneira de nos despedir de Beni, Sara se juntou a nós quando chegamos ao local, a caminhada foi sofrida demais para todos, até a mãe de Edmund agora estava chorando, acho que ela estava sentindo a dor que cada um de nós estava sentindo.
Os ajudantes do cemitério estavam lá quando chegamos e eles atracaram o caixão nas cordas, enquanto as cordas desciam o caixão cada um entregou o seu recado para Beni encima dele, depois fomos jogando as flores azuis que ele pedira, o ultimo recado que estava no monte era o de Patrick e achei que seria digno jogar ali, pois querendo ou não Patrick foi uma parte da vida de Beni, antes de joga-lo eu o li “Queria entender como eu vou viver sem você, agora pra sempre, eu te amo tanto e nunca mais pude falar isso para você, espero que lá encima seja bonito, meu anjo!” Dobrei o recado e rasguei em alguns pedaços, depois joguei na cova encima do caixão.
 Cada um pegou um pouco de terra e jogou encima do caixão, depois os coveiros terminaram tudo, quando começou a chover todos nós aplaudimos o enterro de Beni, ele merecia. Era tudo o que eu pensava.

- Oi meu filho – Falou minha mãe assim que eu entrei em casa naquela noite – Eu tentei ir ao enterro, porem eu não consegui sair do escritório, sua irmã mandou os pêsames, vamos mandar uma coroa de flores para ele.
- Ele não vai gostar, ele achava muito fúnebre – Comentei como se Beni estivesse de fato esperando a coroa.
- Frederico, o Benjamin está morto – Falou minha mãe.
 Então eu me toquei de que ela tinha razão, ele estava mesmo morto, eu havia ido ao enterro, presenciado aquilo, vivido aquilo, meu melhor amigo não estava mais lá, minhas pernas cederam e eu cai no chão de joelhos, nem me importei com a dor, apenas comecei a chorar, minha mãe correu até mim, provavelmente se sentindo culpada por ter me falado aquilo, e me abraçou.
 Eu a empurrei de mim e então me encolhi olhando para seus sapatos de marca – Eu vou sair de casa – Foi tudo o que eu falei pra ela me levantando.
- Como assim Frederico?
- É Tito – A corrigi, virando para ela depois – O Frederico não existe mais, meu nome é Tito e eu não sou mais nenhuma criancinha que você pode controlar, eu vou me mudar daqui.
- Você não conseguiria, você é um mimado, aonde vai conseguir seu conforto com esse seu emprego de merda.
- Não fale do meu trabalho, eu o amo, e o Beni conseguiu ele pra mim, vou viver como o Beni vivia, do seu próprio sustento, um dia de cada vez.
- Você não é o Beni, se não vai acabar como ele, morto de tão bêbado.
 Olhei pra minha mãe com desprezo, apenas sorri pra ela e então me virei indo pro meu quarto – Está enganada mãe, vou ser um Beni sim, porem melhorado.
 Como eu estava com raiva daquela alienação, acho que Beni tinha razão eu precisava viver a minha vida e não o que os outros faziam por mim, a partir daquele momento morria o Tito antigo, e fazendo jus à morte do meu amigo, eu iria mudar, seria um Tito bem melhor do que eu já era.