Mordi os lábios com
força, estava sentindo o gosto de sangue na minha boca, mas não me importava
com aquilo, meu coração estava apertado e era inevitável as lagrimas não
escorrerem pelo meu rosto, tentava puxar o ar, mas não conseguia, tentava fazer
alguma coisa que não fosse chorar, mas tudo naquele momento em frente ao corpo
dele era complicado.
Beni estava ali
sem vida na minha frente, seu rosto estava intacto, alguns arranhões no corpo e
um corte muito profundo em sua perna direita, ele estava pálido, exangue, seus
olhos estavam fechados como se estivesse dormindo e de onde eu observava ele
parecia estar sorrindo, parecia estar sabendo que nunca mais teria de acordar
para essa vida de merda.
Fechei os punhos
com força, dava para sentir minhas unhas, quase todas já ruídas, entrando em
minha pele, eu não estava nem ligando para dor alguma, eu só queria abraça-lo
de novo, e queria lhe dar uma bofetada na cara, por ter morrido por causa de um
idiota.
- Senhor? – O assistente do legista me chamou – A quem
temos de informar? Algum numero a ligar? O senhor precisa de ajuda?
- Não, só preciso de um minuto – Falei ainda encostado no
vidro olhando o corpo de Beni ali na minha frente.
O saco com os
pertences de Beni estava em minhas mãos, o celular estava todo quebrado, a
carteira estava intacta, e provavelmente fora assim que conseguiram me achar,
pois havia feito Beni me prometer que levaria sempre meu numero caso alguma
coisa acontecesse, mas eu não sabia que seria naquela situação, seu zipo também
estava intacto, como eu queria que ele estivesse intacto.
- Senhor? – Perguntou de novo a moça.
- Sim?
- O senhor deseja um café, ou um lugar para sentar? –
Perguntou ela gentilmente – Ele era seu namorado?
- Meu irmão – Falei sem muitos rodeios, e depois
completei – Mas não quero nada não, na verdade eu queria sair daqui.
- Tudo bem – Ela disse abrindo um sorriso solidário para
mim, me guiando para fora do necrotério.
Olhei para o
celular de Beni em minhas mãos e sentei na calçada, começando a chorar como se
não soubesse fazer outra coisa, como ele poderia ter feito isso comigo? Como
ele tinha morrido daquela forma, como eu iria contar isso tudo para o pessoal,
como eu iria falar com a mãe de Beni, como eu ia ter toda essa força.
- Tito? – Perguntou Emma ajoelhando-se a minha frente.
- Ele... Ele se foi mesmo amiga – Nós dois nos abraçamos
e choramos juntos.
Emma estava
tremendo enquanto chorava, era doloroso ouvir ela chorando, o jeito como ele
estava, Emma nunca se comportou daquele jeito em situação nenhuma, ela nunca
foi uma garota de perder o controle, mas naquele momento era perceptível que
ela não tinha controle nenhum, tudo o que fiz foi conforta-la.
Tk chegou alguns
minutos depois, ele estava fumando um cigarro atrás do outro e ele não
conseguia aceitar aquela situação, mas nem ele e nem Emma quiseram ver o corpo
de Beni, ambos estavam chorando bastante.
Ficamos ali por mais ou menos uma hora tentando decidir o que iriamos
fazer daquele ponto com tudo relacionado a Beni.
- Vai parecer ridículo o que eu vou falar, mas Beni tem
escrito como ele queria que fosse o enterro dele – Falou Tk limpando o rosto
com a costa da mão. – Podemos reunir todos em casa e discutirmos isso.
- Eu não sei se eu quero discutir como enterrar o meu
amigo Tk – Falou Emma suspirando – Precisamos ligar para a mãe dele.
- Emma eles não se falam a mais de dez anos, tudo o que
ele tem dela é seu endereço e seu telefone em um cartão postal e está com o
Edmund, como você acha que vamos ligar e falar isso pra ela? Achas mesmo que
ele iria querer sua mãe que o rejeitou por causa do padrasto aqui?
- Tito, ela é mãe dele – Rebateu Emma – Precisamos falar
com todo mundo.
- Emma e Colin estão saindo da delegacia e estão indo
para casa, vamos para lá. – Falou Tk levantando.
Nós andamos em
silencio até o apartamento, agora só de Tk, ninguém queria falar nada, Emma e
Tk foram fumando do necrotério até o apartamento, aparentemente as carteiras de
cigarros terminaram quando viramos a esquina da prédio de Tk. Maria, Colin e
Phil estavam parados ali na frente, ambos com as roupas da festa, eles
aparentavam derrotados, quando nos encontramos de fato todos voltamos a chorar.
- Falei com o Simon e com o Edmund – Falou Colin – Eles
vão chegar daqui a pouco.
- A Sara e o Brian também já foram avisados – Falou Phil
fungando.
Nós seis ficamos
paramos em frente à porta do apartamento, olhando para ela como se esperássemos
Beni abrir a porta a qualquer momento, como sempre acontecia. Mas foi Tk que há
abriu, entramos silenciosos.
Maria correu para
o quarto de Beni, ninguém teve coragem de segui-la, fomos todos para a cozinha,
Tk sumiu da cozinha por um instante e então voltou quando Phil estava nos
fazendo um café e Emma, Colin e eu estávamos sentados na mesa, os dois estavam
fumando.
- Aqui está – Falou Tk jogando uma folha de caderno
amassada e um pouco queimada de cinza de cigarros em cima da mesa – Esta o
jeito que ele quer o seu velório e o seu enterro, e o testamento dele.
- Isso é algum tipo de brincadeira Tk? – Perguntou Phil
do fogão.
- Gente, eu vivia com o Beni, parecíamos marido e marido,
eu irei fazer o ultimo desejo dele como ele pediu, se vocês não me ajudarem não
tem problema, mas também eu irei ficar muito magoado assim como ele ficaria.
Nós todos nos
entre olhamos, mordi os lábios de novo, agora eles estavam doloridos, por causa
da mordida que eu havia dado no necrotério. Puxei a folha para mim e olhei
rapidamente – Acho melhor esperarmos os outros chegarem, eles estão no
testamento.
- Desde quando nós tomamos café? – Perguntou Tk olhando
para Phil que terminava de encher a garrafa.
- Não sei, me deu vontade de fazer o café, algum
problema?
- Nenhum, só achei estranho.
- Onde está o Matheus? – Perguntou Colin.
- Não sei, ele não esta aqui, acho que foi embora.
- Você conseguiu transar com ele? – Perguntei, Emma se levantou
da mesa com cara de poucos amigos, acho que ela não queria participar daquela
conversa.
- Consegui, mas me arrependo, pois Beni me ligou quando
nós estávamos transando, e se eu não estivesse transando provavelmente ele
estaria aqui conosco.
- Não se culpe, ninguém sabia que isso iria acontecer –
Falou Phil suspirando – ninguém esperava que nada daquilo fosse acontecer.
Ficamos em
silencio por algum tempo até que a campainha tocou. Os outros quatros chegaram a
intervalos de dez minutos cada um, tiramos Maria do quarto de Beni, ela estava
agarrada com a camisa que Beni mais gostava chorando em sua cama, mas nenhum de
nós queria ficar no quarto de Beni. Reunimo-nos na sala.
- Quem quer ler? – Perguntou Tk com o papel na mão. Emma
segurou o papel e começou a lê-lo.
- “Tudo bem, eu
estou fazendo isso porque o Tk, o Patrick e o Brian me obrigaram, perdi no jogo
de verdade ou desafio.” – Começou a ler Emma, nós sorrimos, mesmo não tendo
graça alguma naquele momento – “Então
vamos lá, no meu velório eu quero o meu caixão fechado, não quero que ninguém
me veja pálido, quero que se lembrei de mim como da ultima vez que nós bebemos.
Quero meus meninos com as roupas de um arco íris, Tito de vermelho, Brian de
verde” entre parênteses ele colocou que essa cor fica melhor no seu tom de
pele Brian.
Olhei para Brian e
ele estava lagrimando, talvez de todos nós ele fosse o mais sentimental, e Beni
tinha razão aquela cor combinava muito com ele.
Emma voltou a ler
– “Colin de Azul, Phil de amarelo, Tk de
laranja, Simon de Anil e Edmund de Violeta. Maria de branco,Sara de cinza e
Emma de marrom, nada de preto só eu usarei preto e os desavisados. Quero ser
enterrado com a minha calça skinny que rasgou e esta escondida no armário que
estou escondendo de Maria a dois meses, uma camisa de gola v preta, e o meu tênis
surrado, uma caixa de fosforo e uma carteira de Marlboro vermelho. Vou precisar
fumar um pouco lá embaixo.”
- Como sempre
ele fazendo piada de que vai para o inferno – Comentou Sara limpando os olhos.
- Ele vai para o inferno – Afirmou Simon sorrindo.
- Porque você é tão maldoso Simon? Ele está morto sabia?
– Rebateu Edmund um tanto irritado.
- Eu não sou maldoso, só estou tentando alegrar um pouco
as coisas aqui. – Respondeu Simon, mas acho que teria sido melhor se ele
tivesse ficado calado.
- Alegrar as coisas aqui? – Perguntou Edmund agora
começando a ficar alterado – Você é retardado ou algo do tipo? Seu amigo acabou
de morrer e você quer animar um pouco as coisas? Você tinha uma amizade por
Beni, ou só se aproximou dele para transar com todos os amigos dele? Seu
viadinho de merda.
- Até parece que você não é um! – Rebateu Simon agora
perdendo a calma.
- Calem a merda da boca de vocês – Gritou Emma olhando
para o papel, ela estava lagrimando – Calem a boca seus idiotas, o que adianta
brigarmos agora? Se o Simon é frio e egocêntrico deixa ele, se você é briguento
e rabugento ninguém te julga, o meu melhor amigo está frio encima de uma mesa
de metal agora e ele não irá mais acordar, será que podem pensar nisso pelo
menos um pouco? Eu quero terminar a porra que eu estou lendo para poder fazer o
ultimo desejo dele, posso?
- Desculpa – Falou Edmund se segurando para não rebater o
que Emma havia dito. Simon assentiu com a cabeça.
-Quero que não
sirvam café, o Tk sabe o numero da minha conta, quero que deem tequila a todos
os que forem no meu velório, se alguém for né. Se ninguém quiser tequila ai sim
sirvam café batizado, quero álcool no meu velório. E quero que toque Nirvana e
Amy Winehouse enquanto aguardam para me enterrar. – Emma suspirou e limpou
um pouco as lagrimas, depois passou o papel para outra pessoa.
- No meu enterro eu
quero que vocês façam aquela caminhada debaixo do sol, quero que vocês sofram,
como eu não sei se ainda estarei com o Patrick ou não, do jeito que ele está
saindo demais com os seus novos amiguinhos, quero que ele seja o único que
jogue uma flor vermelha pra mim, o resto vai ter de jogar flores azuis, sabem
que é minha cor favorita, não quero alguém falando de Deus é bla bla bla, eu
quero só que me enterrem e toque no fundo Back to Black. – Colin terminou
de ler e suspirou olhando para nós – Eu juro que vou quebrar a cara do Patrick
se ele aparecer na minha frente.
- Acho que isso não tem mais necessidade – Falou Brian
parecendo irritado – Além de Beni estar morto, o Patrick já sofreu tudo o que
tinha de sofrer.
- Ele quer saber aonde o Beni será enterrado e como o
Beni morreu. – Comentou Sara.
- Você está falando com ele? – Perguntou Edmund.
- Achei que ele deveria saber – Respondeu Sara – Eles
ficaram juntos por muito tempo.
- Eu vou terminar de ler – Comentou Colin parecendo
querer fugir de uma briga – Agora vamos
ao meu testamento. Deixo a minha cama para o Simon, eu sei que ele vai fazer
bom uso dela na sua casa, ela é um ótimo ninho de amor e bem espaçosa. Para o
Edmund eu deixo o meu computador, eu sei que até lá ele vai ter o seu próprio
sem ter de dividir com o irmão, mas pelo menos ele vende. Para o Brian eu deixo
a minha adaga, eu sei que vai ser útil para ele. Para a Maria eu deixo minha
camisa favorita. Para Sara eu deixo a minha coleção de garrafas cheias e vazias
que estão no meu bar. Para o Colin eu deixo o meu ipod e minha coleção de cds
antigos. Para o Tito eu vou deixar o meu carro, se um dia eu tiver mesmo um, e
o meu quarto, já está na hora de ele sair da asa da mãe, para o Tk eu deixo a
minha conta bancaria, ele é o único que sabe a minha senha, e eu deixo um
grande desafio, morar com o Tito, para o Phil eu deixo o meu destrinchador e a
minha câmera, eu sei que se ele aprimorar fica bem melhor na sua fotografia,
para a Emma eu deixo minhas lembranças no diário e meus boxes de series e meus
livros. Para o Patrick eu deixo o meu morcego de pelúcia. Peço de doem todas as
minhas roupas, só com exceção da doada para a Maria, não quero ninguém com as minhas
roupas a não ser os necessitados. Acho que é isso.
- Edmund, eu queria que você falasse com a mãe do Beni –
Falei alisando meu rosto.
- Claro que eu falo, acho que sou o único que tenho o
numero dela.
- Tirando que você é o único que vai saber dar essa
noticia com educação e preparo – Comentou Phil tentando abrir um sorriso.
- Irei cuidar o funeral dele – Falou Tk limpando o rosto
e levantando.
- Posso te ajudar? – Perguntou Brian também levantando.
- Eu também ajudarei – Falou Sara também levantando.
- Eu irei arrumar as roupas dele – Comentou Simon
levantando do sofá, ele e Phil foram para o quarto de Beni.
Ficamos apenas eu, Emma, Colin e Maria no sofá, mas ninguém
se encarava, Maria estava enroscada na camisa de Beni e toda afundada no sofá
choramingando baixinho, Colin estava fumando mais uns cigarros com Emma, ele
estava encostado com a cabeça na perna de Emma, já ela estava olhando para cima
com a cabeça encostada no apoio do sofá. Edmund estava na cozinha tentando
entrar em contato com a mãe de Beni.
Tudo parecia tão
morto para nós naquele momento, Sara apareceu no apartamento de Tk quase três
da manha, ela estava com as camisas coloridas, entregou a nossa, Emma pegou um
marca texto e escreveu na sua “para sempre Beni”, e todos gostamos da ideia,
cada um escreveu uma frase bonita para Beni. Tk apareceu um pouco mais tarde,
ele estava acabado era de se notar, mas aparentemente ele já havia feito tudo
com Brian, dali a algumas horas iriamos velar o corpo de Beni.
Brian apareceu
alguns minutos depois com as garrafas de tequila, ninguém se animou com a
situação, mas também como ninguém queria mais problemas, todos começaram a
beber os shotes. Simon voltou do quarto de Beni com a calça que ele queria ser
enterrado e com a camisa, Maria fez um desenho na caixa de fosforo que ele
havia pedido, era Beni fumando sentado em um balanço, havia esquecido como
Maria desenhava bem.
- Estão todos prontos? – Perguntou um embriagado Colin
vestindo sua camisa.
- Vamos logo para lá – Disse Edmund, ele fora o único que
só dera um shote de tequila, ele achava tudo aquilo ridículo, e meus
pensamentos já estavam se concretizando que sem Beni entre nós ele não iria
mais fazer parte de nosso grupo.
Chegamos ao necrotério
alguns cigarros depois, ninguém falava nada, apenas andavam e fumavam como se estivéssemos
em um filme mudo, era possível ouvir Maria e Brian fungando e o irritamento de
Emma crescendo, mas ninguém queria falar ou fazer nada.
Nos direcionamos
para a capelinha que ficava dentro do necrotério mesmo, Tk foi o único que
entrou no necrotério de novo para poder vestir Beni. Era um funeral simples,
apenas conosco ali, talvez a mãe de Beni não quisesse vir, não havia nenhum
padre ou um pastor, eu nem entendia porque estávamos ali de fato, porem depois
que trouxeram o caixão de Beni, meia hora depois, nós ficamos ali olhando para
ele, e para a foto de Beni que provavelmente Tk ou Brian havia imprimido para
colocar no tripé ao lado do caixão.
Porem eu me
enganei, mais pessoas chegaram à capelinha, a mãe de Edmund e seu irmão, alguns
conhecidos do trabalho de Beni, Matheus que se sentou ao lado de Tk
confortando-o com o famoso ombro amigo, e o menos esperado por todos nós,
talvez não por Sara, Patrick e alguns amigos que Beni não falava a muito tempo
depois da separação deles dois. Por fim chegou uma senhora de cabelos castanhos
como os de Beni e os olhos tão perdidos quanto os dele, os mesmo traços de
Beni, talvez o Beni mulher, a mãe de Beni sentou-se no final do salão, apenas
observando a nós e ao caixão do filho.
- Eu sei que não estamos aqui para comemorar nada –
Começou Tk levantando depois de um tempo – Porem Beni escreveu como queria seu
funeral e seu enterro uns anos atrás, e eu achei que deveria fazer o que ele
havia colocado no seu papel. Vamos tocar a banda favorita dele, tem um bloco de
papel que cada um pode escrever o momento que mais gostou em ter com ele, e
shotes de Tequila, a bebida favorita dele.
- Antes de começar
a musica, eu queria fazer minha ultima homenagem ao Beni, eu posso? – Perguntou
Colin levantando, todos confirmaram com a cabeça. – Obrigado – Falou ele
levantando.
Colin se arrastou
até atrás do caixão de Beni e então olhou para todos ali dentro – Beni e eu nos
conhecemos há muito tempo atrás, nós chegamos a quase namorar, e ele era um
excelente amigo e companheiro, entre nossas conversas ele me ensinou a gostar
de musicas boas e cinema, e eu nunca irei esquecer isso, eu o julgava minha
paixão, e nunca tive a chance de falar isso para ele. – Colin estava soltando
algumas lagrimas enquanto falava – Então eu queria dedicar isso a ele.
Ninguém entendeu
muito bem o que Colin queria fazer, pois ele fechou os olhos e baixou a cabeça
por alguns momentos, Emma me olhou um tanto confusa e eu apenas dei de ombros
para ela, não sabia também o que Colin iria fazer, acho que ninguém sabia.
- Se o azul do céu escurecer e a alegria na terra fenecer
não importa, querido viverei do nosso amor se tu és o sonho dos dias meus se os
meus beijos sempre foram teus não importa, querido, O amargor das dores desta
vida um punhado de estrelas no infinito irei buscar e a teus pés esparramar, não
importa os amigos, risos, crenças de castigos quero apenas te adorar se o
destino então nos separar se distante a morte te encontrar não importa, querido.
Porque morrerei também! – Colin estava chorando quando terminou de cantar,
assim como todos nós, aquela era a musica favorita de Beni, ele a cantarolava quase
sempre. – Um punhado de estrelas no infinito irei buscar e a teus pés
esparramar Não importa os amigos, risos, crenças de castigos quero apenas te
adorar. Quando enfim a vida terminar e dos sonhos nada mais restar num milagre
supremo Deus fará no céu te encontrar.
Olhei para trás e
vi que tanto Patrick quanto a mãe de Beni estavam chorando, ele porque Beni havia
dedicado muito aquela musica para o relacionamento deles se um dia Patrick
morresse. E a mãe de Beni porque ela que havia o feito gostar de Maysa, ele
dizia que era a cantora favorita dela.
- Obrigado – Falou Colin ainda chorando e sentando ao
nosso meio.
Ficamos ouvindo
Amy Winehouse por algum tempo enquanto algumas pessoas escreviam bilhetinhos
para serem enterrados com Beni, Patrick foi o ultimo a levantar e eu podia
sentir a tensão de todo mundo para o que ele iria escrever, ele ficou um tempo
escrevendo, mas quando voltou eu me surpreendi com o que aconteceu depois.
Emma levantou do
meu lado e partiu pra cima dele, primeiro ela lhe bateu na cara, um tabefe
muito bem dado, ela estava chorando e eu sabia que era de raiva, Patrick cobriu
o rosto aonde ela havia batido, ele não fez nada a não ser olhar para baixo,
então Emma começou a surtar – Me olha seu escroto, me encara seu ridículo,
filho de uma puta, ele está morto por causa do seu egoísmo, o que você está
fazendo aqui? Em?! – Emma berrava e então Brian e Edmund levantaram para
segura-la, depois que ela começou a socar Patrick em todos os lugares que ela
conseguia até o menino cair no chão, sangrando e gemendo de dor, porem ele
sabia que merecia tudo aquilo e não revidou em nada. – Ele te amava mais do que
tudo e você trocou ele por um idiota que te trai com outro cara, ele te
idolatrava e vivia pra te fazer feliz, essa musica era o resumo da vida dele
contigo e você simplesmente o descartou por um ridículo, todos aqui sabiam que
você traia ele, ele morreu achando que você não o amava que você o odiava e
tudo o que você queria era fuder e fuder e fuder com qualquer coisa que se
mexia. Sai daqui seu ridículo, saia, SAI!
Todos estavam
chocados com o que Emma estava fazendo, com o jeito que ela estava, ela estava
completamente vermelha, as lagrimas ainda no seu rosto, assim como o ódio também,
Sara foi à única que se levantou para ajudar Patrick a levantar, todos estavam
olhando para ele com desprezo, até os amigos dele. Brian levou Emma para fora
dali, e Sara levou Patrick embora, todos ainda estavam atônitos com o que havia
acontecido, ninguém falou nada e nem comentou nada, até que Tk levantou e falou
que já estava na hora de terminarmos com aquilo.
O dia estava
cinza lá fora, parecia que iria chover, o cemitério ficava ao lado do necrotério
então nós mesmo que iriamos levar o caixão e ele só estava sendo levado por
nosso grupo, todos concordaram que seria a melhor maneira de nos despedir de
Beni, Sara se juntou a nós quando chegamos ao local, a caminhada foi sofrida
demais para todos, até a mãe de Edmund agora estava chorando, acho que ela
estava sentindo a dor que cada um de nós estava sentindo.
Os ajudantes do cemitério estavam lá quando chegamos e eles
atracaram o caixão nas cordas, enquanto as cordas desciam o caixão cada um
entregou o seu recado para Beni encima dele, depois fomos jogando as flores
azuis que ele pedira, o ultimo recado que estava no monte era o de Patrick e
achei que seria digno jogar ali, pois querendo ou não Patrick foi uma parte da
vida de Beni, antes de joga-lo eu o li “Queria
entender como eu vou viver sem você, agora pra sempre, eu te amo tanto e nunca
mais pude falar isso para você, espero que lá encima seja bonito, meu anjo!”
Dobrei o recado e rasguei em alguns pedaços, depois joguei na cova encima do
caixão.
Cada um pegou um
pouco de terra e jogou encima do caixão, depois os coveiros terminaram tudo,
quando começou a chover todos nós aplaudimos o enterro de Beni, ele merecia.
Era tudo o que eu pensava.
- Oi meu filho – Falou minha mãe assim que eu entrei em
casa naquela noite – Eu tentei ir ao enterro, porem eu não consegui sair do escritório,
sua irmã mandou os pêsames, vamos mandar uma coroa de flores para ele.
- Ele não vai gostar, ele achava muito fúnebre – Comentei
como se Beni estivesse de fato esperando a coroa.
- Frederico, o Benjamin está morto – Falou minha mãe.
Então eu me toquei
de que ela tinha razão, ele estava mesmo morto, eu havia ido ao enterro, presenciado
aquilo, vivido aquilo, meu melhor amigo não estava mais lá, minhas pernas
cederam e eu cai no chão de joelhos, nem me importei com a dor, apenas comecei
a chorar, minha mãe correu até mim, provavelmente se sentindo culpada por ter
me falado aquilo, e me abraçou.
Eu a empurrei de
mim e então me encolhi olhando para seus sapatos de marca – Eu vou sair de casa
– Foi tudo o que eu falei pra ela me levantando.
- Como assim Frederico?
- É Tito – A corrigi, virando para ela depois – O
Frederico não existe mais, meu nome é Tito e eu não sou mais nenhuma criancinha
que você pode controlar, eu vou me mudar daqui.
- Você não conseguiria, você é um mimado, aonde vai
conseguir seu conforto com esse seu emprego de merda.
- Não fale do meu trabalho, eu o amo, e o Beni conseguiu
ele pra mim, vou viver como o Beni vivia, do seu próprio sustento, um dia de
cada vez.
- Você não é o Beni, se não vai acabar como ele, morto de
tão bêbado.
Olhei pra minha
mãe com desprezo, apenas sorri pra ela e então me virei indo pro meu quarto –
Está enganada mãe, vou ser um Beni sim, porem melhorado.
Como eu estava com
raiva daquela alienação, acho que Beni tinha razão eu precisava viver a minha
vida e não o que os outros faziam por mim, a partir daquele momento morria o
Tito antigo, e fazendo jus à morte do meu amigo, eu iria mudar, seria um Tito
bem melhor do que eu já era.
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