segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Inimigos da Virgindade - Quatro

Tito



  Mordi os lábios com força, estava sentindo o gosto de sangue na minha boca, mas não me importava com aquilo, meu coração estava apertado e era inevitável as lagrimas não escorrerem pelo meu rosto, tentava puxar o ar, mas não conseguia, tentava fazer alguma coisa que não fosse chorar, mas tudo naquele momento em frente ao corpo dele era complicado.
 Beni estava ali sem vida na minha frente, seu rosto estava intacto, alguns arranhões no corpo e um corte muito profundo em sua perna direita, ele estava pálido, exangue, seus olhos estavam fechados como se estivesse dormindo e de onde eu observava ele parecia estar sorrindo, parecia estar sabendo que nunca mais teria de acordar para essa vida de merda.
 Fechei os punhos com força, dava para sentir minhas unhas, quase todas já ruídas, entrando em minha pele, eu não estava nem ligando para dor alguma, eu só queria abraça-lo de novo, e queria lhe dar uma bofetada na cara, por ter morrido por causa de um idiota.
- Senhor? – O assistente do legista me chamou – A quem temos de informar? Algum numero a ligar? O senhor precisa de ajuda?
- Não, só preciso de um minuto – Falei ainda encostado no vidro olhando o corpo de Beni ali na minha frente.
 O saco com os pertences de Beni estava em minhas mãos, o celular estava todo quebrado, a carteira estava intacta, e provavelmente fora assim que conseguiram me achar, pois havia feito Beni me prometer que levaria sempre meu numero caso alguma coisa acontecesse, mas eu não sabia que seria naquela situação, seu zipo também estava intacto, como eu queria que ele estivesse intacto.
- Senhor? – Perguntou de novo a moça.
- Sim?
- O senhor deseja um café, ou um lugar para sentar? – Perguntou ela gentilmente – Ele era seu namorado?
- Meu irmão – Falei sem muitos rodeios, e depois completei – Mas não quero nada não, na verdade eu queria sair daqui.
- Tudo bem – Ela disse abrindo um sorriso solidário para mim, me guiando para fora do necrotério.
 Olhei para o celular de Beni em minhas mãos e sentei na calçada, começando a chorar como se não soubesse fazer outra coisa, como ele poderia ter feito isso comigo? Como ele tinha morrido daquela forma, como eu iria contar isso tudo para o pessoal, como eu iria falar com a mãe de Beni, como eu ia ter toda essa força.
- Tito? – Perguntou Emma ajoelhando-se a minha frente.
- Ele... Ele se foi mesmo amiga – Nós dois nos abraçamos e choramos juntos.
  Emma estava tremendo enquanto chorava, era doloroso ouvir ela chorando, o jeito como ele estava, Emma nunca se comportou daquele jeito em situação nenhuma, ela nunca foi uma garota de perder o controle, mas naquele momento era perceptível que ela não tinha controle nenhum, tudo o que fiz foi conforta-la.
 Tk chegou alguns minutos depois, ele estava fumando um cigarro atrás do outro e ele não conseguia aceitar aquela situação, mas nem ele e nem Emma quiseram ver o corpo de Beni, ambos estavam chorando bastante.  Ficamos ali por mais ou menos uma hora tentando decidir o que iriamos fazer daquele ponto com tudo relacionado a Beni.
- Vai parecer ridículo o que eu vou falar, mas Beni tem escrito como ele queria que fosse o enterro dele – Falou Tk limpando o rosto com a costa da mão. – Podemos reunir todos em casa e discutirmos isso.
- Eu não sei se eu quero discutir como enterrar o meu amigo Tk – Falou Emma suspirando – Precisamos ligar para a mãe dele.
- Emma eles não se falam a mais de dez anos, tudo o que ele tem dela é seu endereço e seu telefone em um cartão postal e está com o Edmund, como você acha que vamos ligar e falar isso pra ela? Achas mesmo que ele iria querer sua mãe que o rejeitou por causa do padrasto aqui?
- Tito, ela é mãe dele – Rebateu Emma – Precisamos falar com todo mundo.
- Emma e Colin estão saindo da delegacia e estão indo para casa, vamos para lá. – Falou Tk levantando.
 Nós andamos em silencio até o apartamento, agora só de Tk, ninguém queria falar nada, Emma e Tk foram fumando do necrotério até o apartamento, aparentemente as carteiras de cigarros terminaram quando viramos a esquina da prédio de Tk. Maria, Colin e Phil estavam parados ali na frente, ambos com as roupas da festa, eles aparentavam derrotados, quando nos encontramos de fato todos voltamos a chorar.
- Falei com o Simon e com o Edmund – Falou Colin – Eles vão chegar daqui a pouco.
- A Sara e o Brian também já foram avisados – Falou Phil fungando.
 Nós seis ficamos paramos em frente à porta do apartamento, olhando para ela como se esperássemos Beni abrir a porta a qualquer momento, como sempre acontecia. Mas foi Tk que há abriu, entramos silenciosos.
 Maria correu para o quarto de Beni, ninguém teve coragem de segui-la, fomos todos para a cozinha, Tk sumiu da cozinha por um instante e então voltou quando Phil estava nos fazendo um café e Emma, Colin e eu estávamos sentados na mesa, os dois estavam fumando.
- Aqui está – Falou Tk jogando uma folha de caderno amassada e um pouco queimada de cinza de cigarros em cima da mesa – Esta o jeito que ele quer o seu velório e o seu enterro, e o testamento dele.
- Isso é algum tipo de brincadeira Tk? – Perguntou Phil do fogão.
- Gente, eu vivia com o Beni, parecíamos marido e marido, eu irei fazer o ultimo desejo dele como ele pediu, se vocês não me ajudarem não tem problema, mas também eu irei ficar muito magoado assim como ele ficaria.
 Nós todos nos entre olhamos, mordi os lábios de novo, agora eles estavam doloridos, por causa da mordida que eu havia dado no necrotério. Puxei a folha para mim e olhei rapidamente – Acho melhor esperarmos os outros chegarem, eles estão no testamento.
- Desde quando nós tomamos café? – Perguntou Tk olhando para Phil que terminava de encher a garrafa.
- Não sei, me deu vontade de fazer o café, algum problema?
- Nenhum, só achei estranho.
- Onde está o Matheus? – Perguntou Colin.
- Não sei, ele não esta aqui, acho que foi embora.
- Você conseguiu transar com ele? – Perguntei, Emma se levantou da mesa com cara de poucos amigos, acho que ela não queria participar daquela conversa.
- Consegui, mas me arrependo, pois Beni me ligou quando nós estávamos transando, e se eu não estivesse transando provavelmente ele estaria aqui conosco.
- Não se culpe, ninguém sabia que isso iria acontecer – Falou Phil suspirando – ninguém esperava que nada daquilo fosse acontecer.
 Ficamos em silencio por algum tempo até que a campainha tocou. Os outros quatros chegaram a intervalos de dez minutos cada um, tiramos Maria do quarto de Beni, ela estava agarrada com a camisa que Beni mais gostava chorando em sua cama, mas nenhum de nós queria ficar no quarto de Beni. Reunimo-nos na sala.
- Quem quer ler? – Perguntou Tk com o papel na mão. Emma segurou o papel e começou a lê-lo.
- “Tudo bem, eu estou fazendo isso porque o Tk, o Patrick e o Brian me obrigaram, perdi no jogo de verdade ou desafio.” – Começou a ler Emma, nós sorrimos, mesmo não tendo graça alguma naquele momento – “Então vamos lá, no meu velório eu quero o meu caixão fechado, não quero que ninguém me veja pálido, quero que se lembrei de mim como da ultima vez que nós bebemos. Quero meus meninos com as roupas de um arco íris, Tito de vermelho, Brian de verde” entre parênteses ele colocou que essa cor fica melhor no seu tom de pele Brian.
 Olhei para Brian e ele estava lagrimando, talvez de todos nós ele fosse o mais sentimental, e Beni tinha razão aquela cor combinava muito com ele.
 Emma voltou a ler – “Colin de Azul, Phil de amarelo, Tk de laranja, Simon de Anil e Edmund de Violeta. Maria de branco,Sara de cinza e Emma de marrom, nada de preto só eu usarei preto e os desavisados. Quero ser enterrado com a minha calça skinny que rasgou e esta escondida no armário que estou escondendo de Maria a dois meses, uma camisa de gola v preta, e o meu tênis surrado, uma caixa de fosforo e uma carteira de Marlboro vermelho. Vou precisar fumar um pouco lá embaixo.”
- Como sempre ele fazendo piada de que vai para o inferno – Comentou Sara limpando os olhos.
- Ele vai para o inferno – Afirmou Simon sorrindo.
- Porque você é tão maldoso Simon? Ele está morto sabia? – Rebateu Edmund um tanto irritado.
- Eu não sou maldoso, só estou tentando alegrar um pouco as coisas aqui. – Respondeu Simon, mas acho que teria sido melhor se ele tivesse ficado calado.
- Alegrar as coisas aqui? – Perguntou Edmund agora começando a ficar alterado – Você é retardado ou algo do tipo? Seu amigo acabou de morrer e você quer animar um pouco as coisas? Você tinha uma amizade por Beni, ou só se aproximou dele para transar com todos os amigos dele? Seu viadinho de merda.
- Até parece que você não é um! – Rebateu Simon agora perdendo a calma.
- Calem a merda da boca de vocês – Gritou Emma olhando para o papel, ela estava lagrimando – Calem a boca seus idiotas, o que adianta brigarmos agora? Se o Simon é frio e egocêntrico deixa ele, se você é briguento e rabugento ninguém te julga, o meu melhor amigo está frio encima de uma mesa de metal agora e ele não irá mais acordar, será que podem pensar nisso pelo menos um pouco? Eu quero terminar a porra que eu estou lendo para poder fazer o ultimo desejo dele, posso?
- Desculpa – Falou Edmund se segurando para não rebater o que Emma havia dito. Simon assentiu com a cabeça.
-Quero que não sirvam café, o Tk sabe o numero da minha conta, quero que deem tequila a todos os que forem no meu velório, se alguém for né. Se ninguém quiser tequila ai sim sirvam café batizado, quero álcool no meu velório. E quero que toque Nirvana e Amy Winehouse enquanto aguardam para me enterrar. – Emma suspirou e limpou um pouco as lagrimas, depois passou o papel para outra pessoa.
- No meu enterro eu quero que vocês façam aquela caminhada debaixo do sol, quero que vocês sofram, como eu não sei se ainda estarei com o Patrick ou não, do jeito que ele está saindo demais com os seus novos amiguinhos, quero que ele seja o único que jogue uma flor vermelha pra mim, o resto vai ter de jogar flores azuis, sabem que é minha cor favorita, não quero alguém falando de Deus é bla bla bla, eu quero só que me enterrem e toque no fundo Back to Black. – Colin terminou de ler e suspirou olhando para nós – Eu juro que vou quebrar a cara do Patrick se ele aparecer na minha frente.
- Acho que isso não tem mais necessidade – Falou Brian parecendo irritado – Além de Beni estar morto, o Patrick já sofreu tudo o que tinha de sofrer.
- Ele quer saber aonde o Beni será enterrado e como o Beni morreu. – Comentou Sara.
- Você está falando com ele? – Perguntou Edmund.
- Achei que ele deveria saber – Respondeu Sara – Eles ficaram juntos por muito tempo.
- Eu vou terminar de ler – Comentou Colin parecendo querer fugir de uma briga – Agora vamos ao meu testamento. Deixo a minha cama para o Simon, eu sei que ele vai fazer bom uso dela na sua casa, ela é um ótimo ninho de amor e bem espaçosa. Para o Edmund eu deixo o meu computador, eu sei que até lá ele vai ter o seu próprio sem ter de dividir com o irmão, mas pelo menos ele vende. Para o Brian eu deixo a minha adaga, eu sei que vai ser útil para ele. Para a Maria eu deixo minha camisa favorita. Para Sara eu deixo a minha coleção de garrafas cheias e vazias que estão no meu bar. Para o Colin eu deixo o meu ipod e minha coleção de cds antigos. Para o Tito eu vou deixar o meu carro, se um dia eu tiver mesmo um, e o meu quarto, já está na hora de ele sair da asa da mãe, para o Tk eu deixo a minha conta bancaria, ele é o único que sabe a minha senha, e eu deixo um grande desafio, morar com o Tito, para o Phil eu deixo o meu destrinchador e a minha câmera, eu sei que se ele aprimorar fica bem melhor na sua fotografia, para a Emma eu deixo minhas lembranças no diário e meus boxes de series e meus livros. Para o Patrick eu deixo o meu morcego de pelúcia. Peço de doem todas as minhas roupas, só com exceção da doada para a Maria, não quero ninguém com as minhas roupas a não ser os necessitados. Acho que é isso.
- Edmund, eu queria que você falasse com a mãe do Beni – Falei alisando meu rosto.
- Claro que eu falo, acho que sou o único que tenho o numero dela.
- Tirando que você é o único que vai saber dar essa noticia com educação e preparo – Comentou Phil tentando abrir um sorriso.
- Irei cuidar o funeral dele – Falou Tk limpando o rosto e levantando.
- Posso te ajudar? – Perguntou Brian também levantando.
- Eu também ajudarei – Falou Sara também levantando.
- Eu irei arrumar as roupas dele – Comentou Simon levantando do sofá, ele e Phil foram para o quarto de Beni.
Ficamos apenas eu, Emma, Colin e Maria no sofá, mas ninguém se encarava, Maria estava enroscada na camisa de Beni e toda afundada no sofá choramingando baixinho, Colin estava fumando mais uns cigarros com Emma, ele estava encostado com a cabeça na perna de Emma, já ela estava olhando para cima com a cabeça encostada no apoio do sofá. Edmund estava na cozinha tentando entrar em contato com a mãe de Beni.

 Tudo parecia tão morto para nós naquele momento, Sara apareceu no apartamento de Tk quase três da manha, ela estava com as camisas coloridas, entregou a nossa, Emma pegou um marca texto e escreveu na sua “para sempre Beni”, e todos gostamos da ideia, cada um escreveu uma frase bonita para Beni. Tk apareceu um pouco mais tarde, ele estava acabado era de se notar, mas aparentemente ele já havia feito tudo com Brian, dali a algumas horas iriamos velar o corpo de Beni.
 Brian apareceu alguns minutos depois com as garrafas de tequila, ninguém se animou com a situação, mas também como ninguém queria mais problemas, todos começaram a beber os shotes. Simon voltou do quarto de Beni com a calça que ele queria ser enterrado e com a camisa, Maria fez um desenho na caixa de fosforo que ele havia pedido, era Beni fumando sentado em um balanço, havia esquecido como Maria desenhava bem.
- Estão todos prontos? – Perguntou um embriagado Colin vestindo sua camisa.
- Vamos logo para lá – Disse Edmund, ele fora o único que só dera um shote de tequila, ele achava tudo aquilo ridículo, e meus pensamentos já estavam se concretizando que sem Beni entre nós ele não iria mais fazer parte de nosso grupo.
 Chegamos ao necrotério alguns cigarros depois, ninguém falava nada, apenas andavam e fumavam como se estivéssemos em um filme mudo, era possível ouvir Maria e Brian fungando e o irritamento de Emma crescendo, mas ninguém queria falar ou fazer nada.
 Nos direcionamos para a capelinha que ficava dentro do necrotério mesmo, Tk foi o único que entrou no necrotério de novo para poder vestir Beni. Era um funeral simples, apenas conosco ali, talvez a mãe de Beni não quisesse vir, não havia nenhum padre ou um pastor, eu nem entendia porque estávamos ali de fato, porem depois que trouxeram o caixão de Beni, meia hora depois, nós ficamos ali olhando para ele, e para a foto de Beni que provavelmente Tk ou Brian havia imprimido para colocar no tripé ao lado do caixão.
 Porem eu me enganei, mais pessoas chegaram à capelinha, a mãe de Edmund e seu irmão, alguns conhecidos do trabalho de Beni, Matheus que se sentou ao lado de Tk confortando-o com o famoso ombro amigo, e o menos esperado por todos nós, talvez não por Sara, Patrick e alguns amigos que Beni não falava a muito tempo depois da separação deles dois. Por fim chegou uma senhora de cabelos castanhos como os de Beni e os olhos tão perdidos quanto os dele, os mesmo traços de Beni, talvez o Beni mulher, a mãe de Beni sentou-se no final do salão, apenas observando a nós e ao caixão do filho.
- Eu sei que não estamos aqui para comemorar nada – Começou Tk levantando depois de um tempo – Porem Beni escreveu como queria seu funeral e seu enterro uns anos atrás, e eu achei que deveria fazer o que ele havia colocado no seu papel. Vamos tocar a banda favorita dele, tem um bloco de papel que cada um pode escrever o momento que mais gostou em ter com ele, e shotes de Tequila, a bebida favorita dele.
 - Antes de começar a musica, eu queria fazer minha ultima homenagem ao Beni, eu posso? – Perguntou Colin levantando, todos confirmaram com a cabeça. – Obrigado – Falou ele levantando.
 Colin se arrastou até atrás do caixão de Beni e então olhou para todos ali dentro – Beni e eu nos conhecemos há muito tempo atrás, nós chegamos a quase namorar, e ele era um excelente amigo e companheiro, entre nossas conversas ele me ensinou a gostar de musicas boas e cinema, e eu nunca irei esquecer isso, eu o julgava minha paixão, e nunca tive a chance de falar isso para ele. – Colin estava soltando algumas lagrimas enquanto falava – Então eu queria dedicar isso a ele.
 Ninguém entendeu muito bem o que Colin queria fazer, pois ele fechou os olhos e baixou a cabeça por alguns momentos, Emma me olhou um tanto confusa e eu apenas dei de ombros para ela, não sabia também o que Colin iria fazer, acho que ninguém sabia.
- Se o azul do céu escurecer e a alegria na terra fenecer não importa, querido viverei do nosso amor se tu és o sonho dos dias meus se os meus beijos sempre foram teus não importa, querido, O amargor das dores desta vida um punhado de estrelas no infinito irei buscar e a teus pés esparramar, não importa os amigos, risos, crenças de castigos quero apenas te adorar se o destino então nos separar se distante a morte te encontrar não importa, querido. Porque morrerei também! – Colin estava chorando quando terminou de cantar, assim como todos nós, aquela era a musica favorita de Beni, ele a cantarolava quase sempre. – Um punhado de estrelas no infinito irei buscar e a teus pés esparramar Não importa os amigos, risos, crenças de castigos quero apenas te adorar. Quando enfim a vida terminar e dos sonhos nada mais restar num milagre supremo Deus fará no céu te encontrar.
 Olhei para trás e vi que tanto Patrick quanto a mãe de Beni estavam chorando, ele porque Beni havia dedicado muito aquela musica para o relacionamento deles se um dia Patrick morresse. E a mãe de Beni porque ela que havia o feito gostar de Maysa, ele dizia que era a cantora favorita dela.
- Obrigado – Falou Colin ainda chorando e sentando ao nosso meio.
 Ficamos ouvindo Amy Winehouse por algum tempo enquanto algumas pessoas escreviam bilhetinhos para serem enterrados com Beni, Patrick foi o ultimo a levantar e eu podia sentir a tensão de todo mundo para o que ele iria escrever, ele ficou um tempo escrevendo, mas quando voltou eu me surpreendi com o que aconteceu depois.
 Emma levantou do meu lado e partiu pra cima dele, primeiro ela lhe bateu na cara, um tabefe muito bem dado, ela estava chorando e eu sabia que era de raiva, Patrick cobriu o rosto aonde ela havia batido, ele não fez nada a não ser olhar para baixo, então Emma começou a surtar – Me olha seu escroto, me encara seu ridículo, filho de uma puta, ele está morto por causa do seu egoísmo, o que você está fazendo aqui? Em?! – Emma berrava e então Brian e Edmund levantaram para segura-la, depois que ela começou a socar Patrick em todos os lugares que ela conseguia até o menino cair no chão, sangrando e gemendo de dor, porem ele sabia que merecia tudo aquilo e não revidou em nada. – Ele te amava mais do que tudo e você trocou ele por um idiota que te trai com outro cara, ele te idolatrava e vivia pra te fazer feliz, essa musica era o resumo da vida dele contigo e você simplesmente o descartou por um ridículo, todos aqui sabiam que você traia ele, ele morreu achando que você não o amava que você o odiava e tudo o que você queria era fuder e fuder e fuder com qualquer coisa que se mexia. Sai daqui seu ridículo, saia, SAI!
 Todos estavam chocados com o que Emma estava fazendo, com o jeito que ela estava, ela estava completamente vermelha, as lagrimas ainda no seu rosto, assim como o ódio também, Sara foi à única que se levantou para ajudar Patrick a levantar, todos estavam olhando para ele com desprezo, até os amigos dele. Brian levou Emma para fora dali, e Sara levou Patrick embora, todos ainda estavam atônitos com o que havia acontecido, ninguém falou nada e nem comentou nada, até que Tk levantou e falou que já estava na hora de terminarmos com aquilo.
  O dia estava cinza lá fora, parecia que iria chover, o cemitério ficava ao lado do necrotério então nós mesmo que iriamos levar o caixão e ele só estava sendo levado por nosso grupo, todos concordaram que seria a melhor maneira de nos despedir de Beni, Sara se juntou a nós quando chegamos ao local, a caminhada foi sofrida demais para todos, até a mãe de Edmund agora estava chorando, acho que ela estava sentindo a dor que cada um de nós estava sentindo.
Os ajudantes do cemitério estavam lá quando chegamos e eles atracaram o caixão nas cordas, enquanto as cordas desciam o caixão cada um entregou o seu recado para Beni encima dele, depois fomos jogando as flores azuis que ele pedira, o ultimo recado que estava no monte era o de Patrick e achei que seria digno jogar ali, pois querendo ou não Patrick foi uma parte da vida de Beni, antes de joga-lo eu o li “Queria entender como eu vou viver sem você, agora pra sempre, eu te amo tanto e nunca mais pude falar isso para você, espero que lá encima seja bonito, meu anjo!” Dobrei o recado e rasguei em alguns pedaços, depois joguei na cova encima do caixão.
 Cada um pegou um pouco de terra e jogou encima do caixão, depois os coveiros terminaram tudo, quando começou a chover todos nós aplaudimos o enterro de Beni, ele merecia. Era tudo o que eu pensava.

- Oi meu filho – Falou minha mãe assim que eu entrei em casa naquela noite – Eu tentei ir ao enterro, porem eu não consegui sair do escritório, sua irmã mandou os pêsames, vamos mandar uma coroa de flores para ele.
- Ele não vai gostar, ele achava muito fúnebre – Comentei como se Beni estivesse de fato esperando a coroa.
- Frederico, o Benjamin está morto – Falou minha mãe.
 Então eu me toquei de que ela tinha razão, ele estava mesmo morto, eu havia ido ao enterro, presenciado aquilo, vivido aquilo, meu melhor amigo não estava mais lá, minhas pernas cederam e eu cai no chão de joelhos, nem me importei com a dor, apenas comecei a chorar, minha mãe correu até mim, provavelmente se sentindo culpada por ter me falado aquilo, e me abraçou.
 Eu a empurrei de mim e então me encolhi olhando para seus sapatos de marca – Eu vou sair de casa – Foi tudo o que eu falei pra ela me levantando.
- Como assim Frederico?
- É Tito – A corrigi, virando para ela depois – O Frederico não existe mais, meu nome é Tito e eu não sou mais nenhuma criancinha que você pode controlar, eu vou me mudar daqui.
- Você não conseguiria, você é um mimado, aonde vai conseguir seu conforto com esse seu emprego de merda.
- Não fale do meu trabalho, eu o amo, e o Beni conseguiu ele pra mim, vou viver como o Beni vivia, do seu próprio sustento, um dia de cada vez.
- Você não é o Beni, se não vai acabar como ele, morto de tão bêbado.
 Olhei pra minha mãe com desprezo, apenas sorri pra ela e então me virei indo pro meu quarto – Está enganada mãe, vou ser um Beni sim, porem melhorado.
 Como eu estava com raiva daquela alienação, acho que Beni tinha razão eu precisava viver a minha vida e não o que os outros faziam por mim, a partir daquele momento morria o Tito antigo, e fazendo jus à morte do meu amigo, eu iria mudar, seria um Tito bem melhor do que eu já era.

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