Sara
Abri os olhos e fiquei olhando para o teto por um
momento, fiquei avaliando as situações que eu teria de me meter hoje, e eu nem
sabia por que eu estava tão frustrada assim, sentei na cama lentamente e olhei
para os lados, eu nem sabia por que meu quarto estava tão desarrumando, na
verdade o porquê da minha vida está tão desarrumada assim, teria de pegar o
trem dali à uma hora e eu não estava com cabeça nem para levantar da cama.
Eu estava fudida.
- Sara? – Gritou Carla lá de baixo, eu sabia que isso ia
dar merda.
- Já to descendo – Falei assim que terminei de colocar
minha roupa.
Desci as escadas
as pressas e quase cai do quinto degrau para o chão do hall, por pouco eu não
quebro uma perna, foi tudo o que eu pensei atracada na escada olhando para o
chão da onde eu estava na escada.
- Amor, você irá se atrasar, e sabe como o Colin fica
quando isso acontece – Falou Carla da cozinha.
- Eu sei, eu sei – Disse suspirando enquanto terminava de
descer a escada.
- Amor, você já pensou em crescer? – Perguntou Carla
enquanto enchia a jarra com suco de laranja.
- Por quê? – Perguntei jogando o meu cereal matinal na
tigela e enchendo com leite gelado.
- Você deveria comer melhor, não se lembra da dieta que iríamos fazer? Cereal pela manha não faz bem! – Comentou ela enquanto comia algumas
torradas.
- Amor, você sabia que está sexy hoje? – Perguntei
abrindo um sorriso safado.
- Você não irá fugir de nossa conversa querida – Disse
Carla abrindo um sorriso maléfico, eu suspirei e fui até ela a abraçando.
Depois baixei meu
corpo e beijei a barriga dela, Carla estava gravida, no seu sétimo mês para
falar a verdade.
Aquele dia era memorável,
pois fazia três anos que Beni havia morrido, eu e Colin ainda nos falávamos
bastante, depois da morte o grupo se separou de uma forma rápida, as únicas pessoas
que eu ainda falava de fato é Maria, Brian e Phil, o resto eu só vejo coisas na
internet e ouço dos outros com quem eu ainda falo, porem todo aniversario da
morte do Beni vamos ao cemitério juntos deixar flores azuis a ele. E hoje é o
dia em que todos irão se encontrar.
Isso ainda me assusta um pouco.
Sai de casa as
pressas, como Carla havia falado eu iria me atrasar, e de fato isso iria
acontecer, pois eu teria de correr para pegar o trem, depois que me casei com
Carla nos mudamos para o subúrbio para ficarmos mais a vontade, em um bairro
aonde quase só moram casais homossexuais, de vez em quando somos chamados para
algumas festas sociais que ocorrem e nos damos muito bem com nossos vizinhos.
Conheci Carla em
um evento de computação há dois anos, ela estava em um dos estandes
apresentando algumas novidades tecnológicas e ficamos conversando por horas
sobre um determinado produto, então ela me chamou para tomar um café depois de expediente
dela. E claro que eu aceitei.
Começamos há
namorar um mês depois, foi um dos melhores relacionamentos que eu já havia
tido, quer dizer, ela me completava completamente, me ensinava coisas novas,
talvez por ser mais velha do que eu, e cuidava de mim como nenhuma outra mulher
havia feito, nós casamos seis meses depois, uma festa pequena, de meu grupo
apenas Colin e Brian apareceram, mas eu fiquei feliz por ele terem aparecido.
Já a gravides foi
mais um ato de loucura minha do que dela estava assistindo a televisão um dia e
em um dos canais o casal tinha um filho, eu me senti comovida naquele dia e
decidi que Carla iria ter um filho meu, nós duas nos preparamos para isso e
então aconteceu apenas um mês depois, mesmo com nós duas trabalhando achávamos
que isso não iria dar certo, ele não nasceu ainda, porem eu acho que ele vai
ser a criança mais linda do mundo e muito amada, e apenas de tudo o filho da
mulher que eu amo.
- Sara, está indo para a estação? – Perguntou Dori, minha
vizinha.
- Sim estou! – Concordei.
- Que bom, entra ai, te deu uma carona.
Dori era minha
vizinha de frente, nós duas nos conhecemos na faculdade e meio que não sabíamos
uma da outra, ela mantinha isso em segredo e segundo ela nunca teve coragem de
me contar enquanto estudávamos, depois de alguns meses que eu e Carla nos
mudamos para a vizinhança, Dori se mudou com a sua esposa, Dori está no seu
quinto mês de gestação e achamos isso muito engraçado.
- Como está a Carla? – Perguntou ela quando voltou a
dirigir.
- Está ótima, acordou de mau humor comigo hoje, porque eu
não estou seguindo a dieta que ela quer que eu siga.
- Estou com a saudade da Taylor, ela está na base sabe? –
Falou Dori desanimada. Sua companheira era militar e meio que vivia viajando
deixando Dori sozinha, por sorte ela e Carla eram amigas e enquanto eu estava
no trabalho elas duas ficavam em casa conversando e cozinhando, já que ambas
estão de licença a maternidade.
- Logo, logo ela volta – Comentei, Dori parecia realmente
triste – Mas e então o que irá fazer na cidade?
- Vou comprar um berço para o bebe – Comentou ela – Eu
estou namorando ele há tempos, e resolvi comprar hoje. E você?
- Hoje é aniversário de meu amigo.
- Serio? Cadê o presente?
- Vou comprar lá mesmo.
- Entendi. Quantos anos ele vai fazer?
- Três anos – Comentei olhando para fora do carro.
- Tão novinho, é filho de alguma amiga?
- Não, é aniversario de morte.
- Oh – Exclamou ela parecendo bem surpresa – Me desculpa,
eu falando besteira.
- Tudo bem Dori, eu não ligo, para mim ele morreu, mas
não morreu às vezes me pego conversando com ele como se ele não tivesse ido
embora, sabe?
- Não – Respondeu ela, nós duas rimos – Mas mesmo assim
meus pêsames.
- Obrigada, vou reencontrar a turma hoje, só nos vemos
quase sempre nessa data.
- Isso é algo legal, não? – Perguntou ela.
- Na verdade, na nossa situação não, parece que não nos
conhecemos mais, depois da morte de Beni nós nos afastamos muito um dos outros,
parece que estou com estranhos conhecidos.
- Que situação chata, não é? – Perguntou ela tentando
parecer confortável com aquela conversa.
Porem segundo
Carla, Dori era uma garota muito inocente e ingênua, como se tudo tivesse que
ser como deveria ser, ela nunca entendia a situação do outro se não estivesse
nos conformes, e aparentemente ela não estava se sentindo confortável com a
minha situação.
Eu também não
estava Dori, eu também não estava. Era tudo o que eu queria falar para ela.
Chegamos à cidade
meia hora depois, nos despedimos na plataforma mesmo, iriamos para lugares
diferentes, depois da situação tensa no carro eu tentei conversar com Dori
sobre coisas normais, como bebes e coisas de bebes, eu estava realmente ficando
experta nesse assunto.
Assim que cheguei ao
lugar marcado encontrei Colin sentado olhando para frente, ele estava de óculos
escuros e provavelmente estava tentando se esconder dos fotógrafos, sempre isso
acontecia quando íamos ao cemitério, ele não gostava quando íamos ao cemitério
e os fotógrafos ficavam seguindo ele. Achei estranho ninguém o reconhecer, eu o
reconheceria se ele estivesse com o cabelo black power e a pele toda negra.
- Desculpe o atraso, antes que acabe comigo – Falei
parando em frente a Colin, não o deixando começar a falar quando abriu a boca.
- Sara, eu não sei o que eu faço contigo – Falou ele
levantando e me abraçando.
Depois que saiu da
faculdade, Colin resolveu se inscrever em um programa de musica, acabou
passando das fases e venceu o tal programa, então ele ficou conhecido na nossa
cidade e no pais como o sensual Colin Reis, galanteador das menininhas, pena
que ele não gostava delas, ele preferia os garotos, porem ele não podia falar
isso.
- Vou usar meus fãs para ajudar esse cemitério, ele está
ficando cada vez mais decadente – Comentou ele enquanto entravamos no cemitério.
- Isso não é contra tudo o que você estudou? – Perguntei
olhando para ele.
- As pessoas gostam de ser usadas minha linda. – Comentou
ele sorrindo. – Vai por mim, eu aprendi isso depois de uns anos.
- Acho que aprendemos isso depois que começamos a andar e
nossas mães mandam a gente pegar coisas para elas.
- Meninos! – Gritou alguém atrás de nós.
Nós dois viramos
na mesma hora, e avistamos alguém que realmente eu não conseguia identificar,
não sei se era porque eu estava ficando louca, ou se porque eu realmente era
uma péssima fisionomista, mas eu podia jurar que aquela pessoa eu não conhecia
mesmo.
- Phil? – Perguntou Colin ao meu lado.
- Sou eu, vocês não lembram mais de mim não? – Perguntou
ele.
- Honestamente, se ti visse na rua eu não iria te
reconhecer mesmo – Comentei olhando para Phil de cima a baixo.
Phil tinha mudado
em quase tudo, estava agora sem óculos e com olhos cor de mel, eu sentia falta
daqueles olhos negros, o cabelo estava de um verde musgo e usava uma roupa preta,
a calça apertada mostrando o quanto ele havia emagrecido e uma camisa surrada
dos Ramones, ele não parecia mais aquele garoto intelectual que eu andava na
faculdade.
- Como vai à fama? – Perguntou ele abraçando Colin.
- Ótima na verdade, farei meu dueto com a Christina
Aguileira daqui a um mês, descobri que ela é uma vaca por trás das câmeras, mas
ainda continuo fã. – Comentou Colin abrindo um sorriso.
- E você e o seu Studio? – Perguntei enquanto o abraçava.
- Acho que Beni tinha razão, eu levo jeito para a coisa –
Comentou ele enquanto voltávamos a andar – Depois que tirei as fotos do CD do
Colin as coisas melhoraram muito, muitos famosos me procuram, mas ainda uso meu
pseudônimo, não quero minha vida pessoal exposta.
- Mais do que o seu cabelo? – Perguntei rindo.
- Para, eu gostei desse luck, e esta na moda em Paris.
- Soube que voltou de lá recentemente – Comentou Colin.
- Sim, estava fazendo as fotos do fashion week para a
vogue, e conheci tanta gente, já estou com a agenda lotada – Comentou ele
parecendo sonhador enquanto falava – Porem eu não esqueci do book do seu ou sua
filhinha, ainda não sabem o sexo?
- Carla não deixou – Comentei – Mas eu quero que seja um
garoto.
- Ela vai ensinar ele a agarrar uma mulher pelo cabelo, a
ser um machão. – Comentou Colin maldosamente, seu sorriso era maldoso.
- Ou vai ensinar ele a jogar futebol – Comentou Brian ao
nosso lado.
Nós três gritamos
quando ele falou, ninguém havia percebido ele chegando. Brian abriu um sorriso
para nós e mostrou todos aqueles dentes brancos, como eu estava com saudades de
Brian, agarrei ele assim que me recuperei do susto, meu amigo havia conseguido
passar na marinha mercante e agora era Pratico da marinha quase não nos víamos
porque ele morava em outra cidade e quase nunca conseguíamos nos falar, porque
quase sempre ele estava fora de casa, porem nos mandávamos postais e e-mails,
na verdade ele me mandava postais de todos os lugares que ia e eu respondia com
e-mails.
- Tudo bem com vocês? – Perguntou ele em meio aos meus
abraços.
Acho que Brian
estava mais alto do que antes, e muito mais musculoso. Seu corpo não era mais
daquele adolescente de quatro anos antes, agora ele já estava um homenzarrão,
com braços fortes e corpo grande, o que se adequava bem mais a sua pele negra.
Depois que o soltei ele abraçou Colin e depois Phil. Nossa turma reunida, isso
era estranho demais.
Assim que chegamos
a lapide de Beni percebi que ela já estava arrumada, isso queria dizer que alguém
mais estava ali no cemitério, e por não estar nos esperando eu já tinha uma
noção de quem seria. Falei para os meninos que eu iria ao banheiro, eles
provavelmente não tinham se tocado que o tumulo de Beni estava limpo.
Sai andando pelo
corredor de lapides e avistei aquele cabelo amarelo claro de longe, ela estava
com um vestido rodado preto e parecia bem mais gostosa do que era anos antes,
Maria estava parada em frente ao tumulo de sua família, ali jazia seus pais,
sua avó materna e sua irmã que morrera recentemente em um assalto, eu não tinha
palavras para conforta-la depois daquilo, convidei Maria para morar comigo mas
ela resolveu seguir sozinha o seu caminho. Parei ao seu lado e segurei sua mão,
Maria sorriu pra mim e encostou sua cabeça em meu ombro, ela estava lagrimando.
- Engraçado como Deus tira as coisas que mais amamos
primeiro – Comentou ela baixinho.
- Maria, você sabe que não estamos aqui para sermos
felizes e sim para sermos testados – Comentei baixinho também.
- Você é feliz com a Carla.
- E você está sendo feliz com o John.
- É, pode-se dizer que sim.
Eu e Maria nos
afastamos por causa de seu novo namorado, John, ele é um cara legal, tem uma
empresa de transporte e faz Maria feliz, digamos que agora Maria não precisa
mais trabalhar, só se ela quiser, ela tem tudo do bom e do melhor, porem ele é
um cara muito ciumento e afastou todos os amigos de Maria, o único que ela mais
tem contato é Tito, pois o marido de Maria é um grande amigo da irmã de Tito.
Porem ninguém sabia o paradeiro de Tito fazia um ano, desde nosso ultimo
encontro.
- Vamos para a lapide de Beni – Falou Maria secando as
lagrimas.
- Você está realmente bonita Maria – Comentei sorrindo.
- Você sempre sendo um amor comigo Sara – Comentou ela
olhando para suas roupas – Na verdade eu nem sei porque escolhi esse vestido,
eu nem se quer gosto dele.
- Ele ficou muito bonito em você – Comentei dando mais
uma olhada para Maria, ela riu e então me deu um tapa fraco no ombro.
- Você tem mulher, olha o respeito eu também tenho um
homem – Comentou ela, nós duas rimos.
- Estou admirando sua beleza, não posso? – Perguntei
parecendo chocada, gargalhamos de novo, como eu sentia falta de Maria.
- Já ia esquecendo – Comentou ela soltando minha mão e
abrindo a bolsa, tirando dela um pano surrado, a blusa que Beni havia deixado
no testamento de folha de caderno para ela.
- Você sempre vem com ela, o John ainda não tirou isso de
você?
- Não, isso é tudo o que ele não pode mudar em mim – Disse
ela vestindo por cima do vestido a blusa, abraçando seu corpo.
Chegamos junto dos
meninos e Edmund, TK e Simon haviam se juntado ao grupo e eles pareciam
empolgados em nos revermos de novo.
Eu sabia que
Edmund havia se casado com Tony e eles haviam se mudado para outro estado dois
anos depois da morte de Beni, fizemos até uma festa de despedida, essa foi à
única exceção de nosso encontro, o único que não compareceu foi Simon, desde
então eu não falava com Edmund, apenas Colin mantinha contato com ele.
Já Tk havia
começado um namoro com Matheus depois que ele voltou para a cidade após se
formar, eles mantinham um relacionamento ainda em apartamento diferentes, Tk
havia voltado para a faculdade depois de um tempo afastado e estava quase se
formando, era tudo o que eu sabia de Tk.
Já Simon havia
virado juiz de algum lugar, eu não conversava mais com Simon desde nosso ultimo
encontro, ele e Brian chegaram a namorar e romperam quando Brian se mudou e
isso deixou o grupo mais estranho ainda, eu nem sabia o porquê do termino
deles, nunca perguntei ao Brian.
- Onde estão Tito e Emma? – Perguntou Tk parecendo
nervoso.
- Está tudo bem? – Perguntou Edmund ao perceber.
- Sim, só não gosto de cemitérios, você sabe disso –
Comentou Tk suspirando olhando para a lapide de Beni.
A foto de Beni
ainda estava ali, ele estava com um cigarro na boca, e não era igual aquelas
fotos estranhas que vemos em todas as lapides, alguém havia trocado,
provavelmente Tito.
Emma e Tito
apareceram alguns minutos depois. Ambos muito diferentes da ultima vez que nos
vimos. Emma agora estava com o cabelo curto e preto, parecia um menino vista de
longe, ela estava bem mais magra, sua clavícula estava muito mais exposta do
que o normal.
Tito agora estava
mais encorpado, ele não parecia mais frágil e inocente, seu rosto estava com
outra expressão, ele estava com uma mala de viajem, porem ele estava me
lembrando muito uma pessoa, olhei para o retrato de Beni na lapide e me
assustei, ele estava lembrando muito o Beni quando estava vivo.
- Chegamos, tive de esperar esse ser humano no aeroporto
– Justificou Emma abrindo um sorriso ao nos ver, abraçando um a um.
- Onde você estava? – Perguntou Tk, mesmo morando juntos
ainda, ele não saber era novidade para mim.
- Tokyo – Comentou Tito, ele agora parecia mais
arrogante.
- A cidade preferida de Beni – Comentou Maria baixinho.
- Sim, queria fazer uma homenagem – Comentou Tito olhando
estranhamente para Maria – Que fofo você ainda está com a camisa dele. Já a
lavou alguma vez.
- Nunca lavarei, quero permanecer com o cheiro dele nela.
- Sabia que você tem glândulas sudoríparas no seu corpo e
que você soa, e acho que também a camisa já deve estar com o cheiro do seu Chanel
n°4, eu sinto daqui – Comentou Tito abrindo um sorriso torto.
- Alguém voltou de Tokyo com a macaca, mas os menores pênis
do mundo estão lá, deve ter sido isso – Comentou Simon rindo, nós todos rimos
da observação, menos Tito.
- Se eu fosse ignorante o suficiente para transar com
todos os presos julgados gostosos pelo juiz, eu ligaria para isso – Comentou
Tito revirando os olhos – Mas vamos aplaudir o tumulo de Beni ou o que dessa
vez? Ouvir uma das musicas bregas sobre amor do Colin?
- O que aconteceu com você Tito? – Perguntou Edmund na
defensiva – Se não queria nos encontrar não precisava vir para falar mal dos
outros. Se você não cresceu na vida e continua sendo sustentado pela sua mãe
por ser tão ignorante para conseguir algo melhor a culpa não é nossa.
- Falou o namoradinho que mudou a vida toda por causa do
maridinho que te trai com todos os caras do escritório dele.
- Calma – Comentou Brian quando Edmund avançou para cima
de Tito, Brian era o único que conseguia segurar Edmund.
- Tito o que você quer aqui? – Perguntei olhando para ele
– Você não é mais o mesmo há muito tempo, e se não nos julga mais como seus
amigos porque ainda insiste?
- Amigos? – Perguntou Tito olhando para cada um de nós –
Você perdeu a cabeça Sara? Vamos ver, Simon é uma putinha do tribunal, Edmund o
corno do Arizona, Brian o traído no exercito, Maria a influenciada do Uper West
Side, Tk o mentiroso da ralé do gueto, Emma a machinho e metida a pegadora que
não consegue esquecer a mesma mulher tem cinco anos, Phil o palhaço ridículo
que foi fazer vergonha em Paris, Colin o cantor de quinta categoria que ganhou
um reality show de merda e você a traidora do subúrbio, alguém quer mais que eu
revele alguma coisa? - Perguntou Tito olhando para todos nós, sua expressão era
fria. – Nós nos somos amigos e nunca fomos essa família aqui morreu junto com
esse garoto ai, ou você esqueceu quem nos juntou afinal de contas.
- Eu não sei por que você está sendo um retardado –
Comentou Emma suspirando – Mas eu acho que está na hora de você calar a boca,
não viemos aqui por você, viemos aqui pelo único cara que te deu as mãos e te
fez amigo dele e uma pessoa melhor, mas pelo jeito você só piorou depois que
ele morreu, continua o mesmo mimado e egoísta de sempre – Emma então aproximou
mais de Tito, ficando cara a cara com ele – Você precisou dessa família quando
saiu de casa, lembra? Você precisou de nós quando ele morreu, lembra? Você
precisou de nós quando ficou desempregado, lembra?
- E daí? – Perguntou Tito tentando não perder a pose de
garoto sem coração. – Eu falei alguma mentira sobre todo mundo?
- Não, assim como ela não está falando nenhuma mentira
sua. – Comentou Tk suspirando. – Pouco me importa o que você pensa sobre mim,
não estou aqui por você, e sim por ele.
Tk apontou o dedo
para lapide de Beni e então nós todos olhamos para ela, o tempo estava
fechando, como da primeira vez que estivemos ali, porem nenhum de nós arredou o
pé, ficamos ali relembrando coisas de Beni, alguns choraram, outros não, Tk nos
entregou as rosas azuis que sempre jogávamos na lapide dele todo aniversario,
depois decidimos beber a ele. Ninguém sabe muito bem o por que.
Estava voltando
para a estação quando meu celular tocou. Eu não estava mais aguentando aquele
reencontro, Simon e Brian nem trocavam uma palavra, Tito estava irritando a
todo mundo e quase Edmund bateu nele pela terceira vez em duas horas, tudo o
que Maria falava era de John e o quanto ele era bom para ela, e os fãs de Colin
não paravam de nos perturbar. Precisava relaxar.
- Oi, pensei que não iria me ligar. – Comentei.
- Claro que eu iria te ligar, eu não esqueci que você
esta na cidade, e advinha, estou sozinha em casa, meu marido está no trabalho
quer vir aqui?
- Com certeza – Concordei dobrando na rua antes da
estação – Chego ai em dez minutos.
Desliguei o
celular sorrindo, depois liguei para Carla e quando caiu na caixa postal eu
comecei a falar – Querida, vou ficar um pouco mais com o pessoal, sabe como são
os reencontros, volto um pouco mais tarde para casa, te amo.
Desliguei o
celular na hora que parei em frente ao apartamento dela, apertei a campainha e
o portão abriu, olhei para trás antes de entrar no prédio, tirei minha aliança
e coloquei na carteira. Sai andando, deixando a porta se fechar as minhas
costas.
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